APÓSTOLO PAULO [PARTE 4] O PRISIONEIRO DO SENHOR


Categoria: Acervo
Imagem: Apóstolo Paulo na prisão - Quora
Publicado: 31 de Julho de 2009, Sexta Feira, 23h34

Paulo, o Prisioneiro do Senhor
Em cada cidade, o Espírito Santo advertia Paulo em mensagem profética, os sofrimentos que o guardavam em Jerusalém. Aqui, como em muitas outras situações, percebemos que o consolo do Espírito nem sempre nos vem como esperamos, mas sim como agrada o Pai. Nosso Senhor sabe que recebemos forças quando enfrentamos corajosamente os fatos mais desagradáveis, preparando-nos espiritualmente em tempo, a fim de que um repentino inforúnio não nos pegue de surpresa, como cilada do Diabo.

Chegando a Jeruslaém, Paulo estava espiritualmente pronto para suportar o pior, por amor ao Evangelho. Não foi deixado a lutar sozinho. Bem no meio da tempestade da perseguição, o Senhor lhe apareceu em visão para encorajá-lo. O Senhor, que a respeito de Paulo dissera: “Este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel” (At 9.15), era o mesmo, que agora dizia-lhe: “Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma” (23.11).

O apóstolo já pregara muito aos gentios e judeus, como vimos nas lições que já estudamos. Agora, mais uma etapa da missão desse grande apóstolo estava à frente, por vencer: a pregação do Evangelho a reis, príncipes e governadores.

Paulo é Levado Preso para Cesaréia (23.11-35)
A presença de Paulo perante o Sinédrio, para ser julgado, não trouxe qualquer resultado satisfatório. Diante das palavras do apóstolo a respeito da ressurreição, surgiu grande confusão entre os dois grupos ali presentes, isto é, entre os saduceus e os fariseus. Então o oficial comandante da guarda decidiu enviar Paulo à fortaleza, onde passaria a noite.

. Primeiro Passo em Direção de Roma
Sempre fizera parte dos planos de Paulo visitar Roma, entretanto, não surgira qualquer oportunidade até àquela data. Naturalmente Paulo não podia imaginar que seria agora que seu desejo iria cumprir-se. Eis que de repente, Paulo ouve a voz do Senhor: “Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa também o faças em Roma” (v. 11). Paulo devia sentir-se entristecido diante da rejeição ao evangelho de Jesus Cristo, por parte dos judeus. Ele que tanto aguardara pela oportunidade de testemunhar em Jerusalém! Surgia agora o momento de testemunhar aos romanos. Apenas Paulo jamais imaginara ser conduzido por Deus a Roma para ali testemunhar, feito prisioneiro. O “pior” método de Deus para tratar conosco e em nós, continua sendo muitíssimo mais excelente do que o melhor que nós mesmos planejamos para nossa vida.

. Providências de Cláudio Lísias
Ao amanhecer do dia seguinte, Cláudio Lísias, comandante da unidade militar que tinha Paulo sob guarda, tomando conhecimento através de um parente de Paulo, que alguns dos judeus estavam decididos a matá-lo (v.12), chamou dois dos centuriões que estavam sob o seu comando, e disse-lhes que preparassem uma escolta com 70 cavaleiros, 200 soldados e 200 lanceiros para tirar Paulo de Jerusalém a partir da meia-noite e o levassem a Cesaréia, a Félix, governador da Judéia. Através de um dos oficiais, o comandante Cláudio endereçou uma carta a Félix, através da qual apresentava o prisioneiro Paulo ao governador. A carta tinha o seguinte teor:

Cláudio Lísias ao excelentíssimo governador Félix, saúde.
Este homem foi preso pelos judeus e estava prestes a ser morto por eles, quando eu, sobrevindo com a guarda, o livrarei, por saber que ele era romano. Querendo certificar-me do motivo por que o acusavam, fi-lo descer ao Sinédrio deles; verifiquei ser ele acusado de coisas referentes à lei que os rege, nada, porém, que justificasse morte ou mesmo prisão. Sendo eu informado de que ia haver uma cilada contra o homem, tratei de enviá-lo a ti sem demora, intimando também os acusadores a irem dizer na tua presença o que há contra ele. Saúde.
” (v. 26-30)

Podemos compreender as grandes precauções tomadas por Cláudio Lísias. Ele pouco tinha se preocupado com as acusações feitas a Paulo, mas concluíra que este era uma pessoa de certa importância e que seus inimigos eram fortes e resolutos. Além disso, Paulo era cidadão romano e Lísias tinha já negligenciado um tanto no trato devido a tal prisioneiro. Acrescia ainda que bandos inquietos agiam violentamente, e Lísias sabia que era mui tensa a situação. Por conseguinte Lísias ansiava por ver-se livre daquela pesada responsabilidade. Por essa razão enviou Paulo à presença de Fèlix, em Cesaréia, a capital do Impéiro Romano na Judéia.

Acusação e Defesa de Paulo (24.1-27)
Poucos dias depois da chegada de Paulo a Cesaréia, uma delegação do Sinédrio de Jerusalém, tendo à frente o sumo sacerdote Ananias, e assistido por um orador medíocre chamado Tértulo – uma espécie de advogado, desceu à Cesaréia para apresentar uma acusação contra Paulo.

Tértulo começou seu discurso num estilo florido e pomposo, mas foi-se degenerando até acabar em nada.

. Acusações Contra Paulo
As queixas contra Paulo eram de natureza política e religiosa: Paulo era, segundo conceito dos judeus, “uma peste”, e criador de dissensões entre os próprios judeus de todo o mundo e o cabeça da seita dos nazarenos (v. 5). Também foi acusado de tentar profanar o Templo – a queixa anterior de que Paulo introduzira gentio no Templo fora modificada por falta de provas. A acusação de ser um tumultuador e sedicioso era a queixa mais grave que se podia apresentar a um tribunal romano, e a esperança de ver Paulo condenado os levou a frisar mais o aspecto político do que o teológico. A palavra “seita” é boa tradução do vocábulo grego contido no versículo 5. Conquanto esse termo grego significasse originalmente “partido”, sem dúvida foi aqui empregado para descrever pessoas de má fama. Ao Cristianismo não se havia ainda concedido direitos de religião lícita dentro do Império Romano, e por isso o judaísmo podia julgar-se no direito de taxá-lo de seita infiel e ilegal de suas próprias fileiras.

. A Defesa de Paulo
A falsa acusação de Tértulo, Paulo refutou categoricamente, dizendo exatamente o que o trouxera a Jerusalém e o que fizera desde que aí chegara, insistindo outra vez que toda a controvérsia entre ele e seus opositores girava em torno da questão da ressurreição, que não era uma idéia por ele inventada, sendo inclusive esperada pelos demais judeus (v. 15). Se verificarmos o lugar central que a ressurreição ocupa no Evangelho pregado por Paulo, não usaremos de evasivas ante esta sua declaração.

Paulo respondeu a cada uma das três acusações, a saber: a de ser um agitador, a de ser chefe de uma seita, e a de haver tentado profanar o Templo. Negou estar perturbando a paz de Jerusalém, pois ali chegou para adorar (v. 11) e trazer ao seu povo esmolas e ofertas (v. 17). Paulo insiste em afirmar que não foi achado discutindo nem reunindo gente no templo, nas sinagogas, ou em qualquer outra parte da cidade.

Em parte Paulo admitiu a segunda acusação que lhe faziam, mas corrigiu-a em pontos mui importantes. Confessou que de fato participava desse “Caminho” a que os judeus chamavam “seita”; mas tal Caminho era o verdadeiro judaísmo. E, de fato, como seguidor do Caminho, mostrava ser um judeu mais fiel que seus acusadores. Ele adorava a Deus de sesu antepassados – e por isso o Caminho não era uma religião nova. Participava da mesma esperança de Israel e a admitiu por inteiro nos termos da ressurreição. Por isso os saduceus o rejeitaram, e os fariseus podiam não segui-lo em tudo, mormente quando afirmava a ressurreição “dos justos e injustos”.

A terceira acusação, referente à profanação do templo, era coisa absurda. Paulo afirmou que, muito ao contrário, achou-se “purificando no templo, não em ajuntamento, nem com tumulto” (v. 18). Acrescentou o apóstolo que o tumulto havido foi provocado pelos judeus que vieram da Ásia, os que se opunha a ele. Paulo talvez começasse a dizer isso; mas, porque a acusação era por demais falsa, e por se acharem ausentes as testemunhas, ele quebrou a sentença e não a completou. Uma tradução mais literal do versículo 19 nos revela a emoção de que Paulo certamente estava possuído: “Mas essas pessoas da Ásia, judeus, deviam estar presentes diante de ti e acusar-me de alguma coisa que pudesse ter contra mim”. Até o próprio Sinédrio via-se impossibilitado de acusá-lo de qualquer coisa, a não ser no ponto teológico da ressurreição.

A essa altura dos acontecimentos, o governador Félix adiou o prosseguimento da causa até que o comandante Lísias descesse de Jerusalém para dar seu depoimento.

Paulo Perante Félix e Festo (24.22-27; 25.1-12)
Félix adiou o julgamento de Paulo enquanto aguardava a chegada a Cesaréia, do comandante Cláudio Lísias que estava em Jerusalém. Certamente eram vários os motivos que levaram Félix a tomar essa decisão. Visto que Paulo dizia uma coisa e os seus acusadores outra, de fato havia alguma razão para se aguardar a chegada de Lísias. Por outro lado, Félix evidentemente estava já convencido de que Paulo não tinha culpa de crime algum que estivesse na alçada de seu tribunal; mas duas razões havia no momento para deixar Paulo detido: ele temia os judeus e esperava receber algum dinheiro de Paulo. Prova-se que o governador reconhecia a inocência de Paulo pelo fato de dar-lhe liberdade mesmo em custódia.

Paulo certamente permanecia acorrentado, mas livre. Não seria impedido aos inimigos de Paulo, antenderem-no em suas necessidades. Félix tinha algum conhecimento do Caminho (v. 22). Isto explica-se muitas vezes pelo fato de sua mulher, Drusila, ser judia; mas a verdade é que Fèlix já vivera na Palestina o suficiente para reconhecer de primeira mão alguma coisa do movimento cristão.

. O Interesse de Félix por Paulo
A curiosidade de Félix fora despertada por este prisioneiro de tal forma que pediu uma apresentação particular da sua mensagem. E então foram invertidas as posições! Antes, tratava-se de Paulo diante de Fèlix; agora tratava-se de Fèlix diante de Paulo. As palavras de Paulo sobre a “justiça, o domínio próprio, e o juízo futuro” (v. 25), davam em cheio sobre a casa real. No caso de Drusila, a palavra de Paulo sobre o autocontrole podia ferir fundo a vaidade, o ciúme e o mundanismo dela. Sentindo-se mal com a pregação de Paulo, Félix interrompeu a entrevista por aquela hora para quando tivesse umas horas vagas.

Como Félix nada recebesse de Paulo em troca de sua atenção pessoal, mandou que Paulo fosse recolhido da prisão. Quando o período de Félix como governador chegou ao fim, preparou seu relatório para o governo central de Roma. Como o desejo natural dos políticos de obter apoio popular, deixou Paulo preso para evitar que os judeus dessem queixa contra sua pessoa. Na realidade, foi Deus quem permitiu que Paulo ficasse na prisão, para preservar sua vida e encaminhá-lo a Roma.

. Paulo Perante Festo
Festo chegou à província da Judéia em certo dia do ano 59 d.C.; poucos dias depois subiu de Cesaréia – sede do governo, a Jerusalém, a fim de encontrar-se com o sumo sacerdote e o Sinédrio. Estes não perderam tempo em referir o caso de Paulo, na esperança de que Festo, em sua inexperiência, haveria de permitir que eles levassem a efeito o que tencionavam relativamente ao apóstolo. Festo não atendeu ao pedido deles, de enviar Paulo de volta a Jerusalém, mas convidou-os a descer a Cesaréia e aí apresentar sua queixa contra ele. Assim fizeram depois de oito ou dez dias. Formularam acusações que não puderam provar, às quais Paulo revidou com firmeza. Então Festo, perplexo, e desejando agradar aos judeus ao início de sua gestão, perguntou se Paulo queria subir a Jerusalém e lá, perante ele, ser julgado. O apóstolo temendo que a fraqueza de Festo viesse expô-lo novamente ao perigo de cair nas garras dos seus rancorosos inimigos, tomou uma decisão de longo alcance: prevaleceu-se de seu privilégio de cidadão romano, apelando ao tribunal providencial onde estava sendo julgado, para Cèsar.

. A Fraqueza de Festo
Podemos admitir que Festo procurava tratar honestamente a todos. Como romano, estava ele em desvantagem, desorientado pelos estranhos interesses e leis dos judeus. Ele estava certo que Paulo nada devia que merecesse punição ou morte, mas urgia também dar ouvidos e atenção aos chefes judeus, especialmente por ser ele um procurador bem novo entre eles. Mas Festo não consegue esconder a falta de coragem para agir decisivamente. Mui provavelmente ele pretendia aclamar os judeus, levando Paulo a ser julgado em Jerusalém, e talvez atendendo ao desejo dos líderes dos judeus; ao mesmo tempo, desejava proteger a Paulo, uma vez que ficava, em suas mãos a presidência do julgamento de Paulo em Jerusalém (v. 9). É importante notar que Festo não admitiu que Paulo fosse julgado pelo Sinédrio, mas que apenas fosse julgado em Jerusalém. “Perante mim” é coisa clara na proposta de Festo (v. 9). Como se multiplicasse a confusão, Festo, sem dúvida deu-se por feliz quando surgiu a possibilidade de remeter Paulo à corte superior em Roma, escapando ele assim ao dilema de sacrificar um homem inocente ou ofender os chefes judeus.

Festo Expõe a Agripa o Caso de Paulo (25.13-27; 26.1-23)
Paulo não foi enviado a Roma imediatamente ao apelar para César. Ficou ainda sob a responsabilidade do governador Festo, que viu-se diante de um problema. Como redigir um documento através do qual Paulo fosse apresentado à Corte Imperial em Roma? Não tardou que se apresentasse a Festo uma saída da dificuldade em que se achava. Sua província limitava-se com o pequeno reino de Herodes Agripa II (filho de Herodes de Atos 12.1), cuja capital era Cesaréia de Filipe, famoso nos Evangelhos. “E, passados alguns dias, o rei Agripa e Berenice vieram a Cesaréia, a saudar Festo” (25.13).

. O Rei Herodes Agripa II
Agripa era conhecido como versado em todas as questões de religião dos judeus. Entre outras coisas, cabia-lhe por direito nomear os sumo sacerdotes judeus. Ficava sob sua guarda as vestes cerimoniais por estes usadas, no grande dia da expiação, uma vez por ano, daí ter sido chamado algumas vezes, não muito apropriadamente, “o cabeça secular da Igreja Judaica”. Por isso, quando ele e a irmã vieram a Cesaréia, Festo procurou Agripa para ajudá-lo na formulação do documento através do qual Paulo seria enviado como prisioneiro à cidade de Roma. Era-lhe necessário entender a base fundamental da acusação do Sinédrio, para comunicá-la ao Imperador. A dificuldade de Festo girava em torno de “certo morto, chamado Jesus a quem Paulo afirmava estar vivo”. O apóstolo deixava bastante claro o alvo de suas atividades, apesar da falta de compreensão do procurador! Agripa ficou interessado e manifestou o desejo de ver esse homem. Foi assim que, no dia seguinte, Festo, Agripa e Berenice apresentaram-se em grande pompa e luxo com a comitiva do procurador e as principais personagens de Cesaréia. Paulo foi trazido à presença de todos e Festo apresentou a Agripa, que deu-lhe permissão para expor o que ocorria.

. Paulo Discursa Perante o Rei Agripa
Evidentemente, tratava-se de um auditório constituído de elementos de destaque na vida política, social e militar – gente culta e rica.

Como ja vimos, aquela reunião não tinha por finalidade o julgamento de Paulo, uma vez que ele já havia apelado para César. Todavia, daquele encontro resultaria a determinação dos dizeres que justificariam as acusações contra ele. E Paulo então, achou por bem valer-se da oportunidade para dar seu testemunho àquele grupo de pessoas importantes. E falou da manifestação do poder de Deus em sua vida. Foi uma verdadeira profissão de fé, sua declaração de que ouvira e aceitara a voz de Deus, cumprindo suas ordens desde Damasco (vv. 16,18).

Paulo tinha motivos para se alegrar pela oportunidade que lhe era dada para explicar pessoalmente o seu caso e também proclamar o Evangelho de Cristo perante os mais altos líderes dentre os judeus. Isto era um fato de grande importância, pois Agripa conhecia os costumes e controvérsias da gente judia.

Depois das palavras de gratidão a Agripa, Paulo tratou dos pontos de maior relevância em sua vida e ministério, do seu judaísmo completo (vv. 4,11); da sua conversão, que só aconteceu por intervenção de Deus (vv. 12-15); do seu ministério para judeus e gentios (vv. 16-18); da sua vida de obediência à vontade de Deus, o que levou à prisão (vv. 19-21); e, da sua crescente afirmação do Evangelho de Cristo que foi morto mas que agora está vivo, sempre fiel para com Moisés e os profetas. Por fim, proclamou Jesus como a luz para “o povo judeu” e para os gentios (vv. 22-23).

O seu judaísmo verdadeiro, afirmou Paulo, podia ser verificado por todos quantos desejassem saber. Pessoa alguma podia negar que ele vivera conforme a mais rigorosa seita, ou partido da religião deles, como um perfeito fariseu (v. 5). A esperança que ele alimentava no momento, não era nenhuma inovação, ou criação sua, mas a verdadeira esperança de Israel. Com certa dose de ironia, referiu-se ele a um fato quase incrível: “E por causa desta esperança é que sou acusado pelos judeus, ó rei!”.

E Paulo, novamente, baseia seus argumentos no glorioso acontecimento da ressurreição de Cristo (v. 8).

. Um Testemunho Pessoal
“Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial” (v. 19). Agripa tinha que entender que, quando Deus fala, o homem não tem outro caminho senão obedecer. Esta obediência de Paulo (v. 20), incluía um grande volume de serviço e abnegação, num círculo de atuação sempre maior: Damasco, Jerusalém, Judéia, e o mundo gentio, e, implicava arrependimento, conversão e prática de obras dignas de serem imitadas.

Paulo é Interrompido por Festo (21.17-22.29)
A esta altura do discurso, Paulo já falava com inflamado entusiasmo. Para Festo, um oficial romano pagão, ignorante das Escrituras, um discurso público com descrições de visões, revelações e ressurreição era demais. Foi a esta altura que Festo interrompeu o apóstolo Paulo em seu discurso: “Estás louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar.” (v. 24). A eloqüência de Paulo fora interrompida, mas não a sua firme confiança.

Agripa, profundo conhecedor do judaísmo, estaria, por certo, impressionado com as palavras de Paulo. “Porque tudo isto é do conhecimento do rei, a quem me dirijo com franqueza, pois estou persuadido que nenhuma destas coisas lhe é oculta; porque nada se passou aí, nalgum recanto” (v. 26). As raízes de muitas religiões estão enterradas na poeira das lendas e supertições. O Cristianismo por sua vez, está fundamentado em princípios e eventos documentados pela História, por testemunhas fidedignas e verdadeiras.

. O Evento do Testemunho de Paulo
Paulo não tinha certeza de merecer a compreensão de Festo, mas quanto a Agripa, era diferente. Por isso concluiu seu argumento, indagando: “Acreditas, ó rei Agripa, nos profetas? Bem sei que acreditas” (v. 27). E Agripa respondeu: “Por pouco me persuades a me fazer cristão.” Efetivamente, Paulo continuou com sinceridade, zelo e cortesia: “Assim Deus permitisse que, por pouco ou por muito, não apenas tu, ó rei, porém todos os que hoje me ouvem se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias.” Paulo queria repartir sua fé sem repartir as perseguições das quais se tornara alvo desde a sua conversão a Cristo, a quem consagrou toda a sua vida.

As palavras ditas por Festo revelam que ele era um homem de coração duro e de espírito fechado para as coisas de Deus. Reconhece a cultura de Paulo para depois dizer-lhe que o que Paulo pregava não passava de loucura. Esta é, sem dúvida, a maneira de agir de muitos que se acham investidos de poder secular e que se dizem cultos. Julgam-se sempre superiores às questões que envolvem a alma e a vida eterna.

A posição tomada por Agripa, à qual foi feito um apelo pessoal (vv. 27 e 29), caracteriza aqueles que estão sempre deixando para mais tarde a oportunidade de render suas vidas aos pés de Jesus. Resistiu ao apelo de Deus mediante o apóstolo Paulo e à voz da sua consciência. Manifestou publicamente a sua incredulidade.

. Agripa Decide Libertar Paulo
Tendo Paulo chegado ao fim do seu discurso, os membros do tribunal levantaram-se, Festo, Agripa e Berenice, conversando entre sí, chegaram à conclusão de que Paulo não cometera nenhum crime. Portanto, não merecia morrer, nem continuar em prisão. Bem podia ser solto se não houvesse apelado para César.

Não se sabe ao certo se a lei romana determinava que uma vez feita a apelação para César, o processo devia continuar, ou se Festo simplesmente se esconderia atrás desta conclusão para evitar problemas com os judeus, caso soltasse Paulo. O que devemos ter em mente, fora de uma e de outra especulação, é que, acima de tudo, Deus era o responsável não só pelo que ali havia acontecido, mas também pelo que haveria de acontecer na vida do apóstolo Paulo a partir daquele momento.

. A Soberania Divina na Vida de Paulo
Este homem a quem Deus escolhera para o seu apostolado antes mesmo que ele nascesse, não podia estar só, em hora tão difícil, quando os homens lhe davam as coisas e os amigos deviam estar longe. O cristão desprezado pelos homens e abandonado pelos seus, move a compaixão de Deus. O fato do rei Agripa ou o governador Festo julgar não poder libertar Paulo pelo simples fato de ter ele apelado para César, não era desculpa de mera importância. Por trás de toda e qualquer decisão dos reis e magistrados, Deus ja havia decidido o que fazer com e através do seu servo. “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos” (Is 55.8,9). Deus ja havia decidido e revelado a Paulo que lhe convinha comparecer em Roma (23.11), não importando o que o homem viesse a decidir. É com muita dificuldade e distorcidamente que o homem vê o que no presente se relaciona a si mesmo, mas Deus que não esquece o passado, e para quem o futuro é presente, não só sabe o que é melhor para os que lhe são afetos como também conserva consigo o direito de fazer o melhor em benefício do Seu reino. Paulo tinha algo a ver com tudo isso.

 

Fonte: O Livro de Atos, EETAD.


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