[PROF. WOLFGANG TESKE] A EDUCAÇÃO QUE TRANSFORMOU LUTERO NO HERÓI DA REFORMA PROTESTANTE


Categoria: Coluna, Martinho Lutero
Imagem: Blog do Professor Wolfgang Teske - http://alfarrabioteske.blogspot.com/
Publicado: 02 de Abril de 2017, Domingo, 18h23

Por: PROF. WOLFGANG TESKE (foto)

Lutero é considerado um herói da Reforma Protestante. Entretanto, para entendermos esta história, é necessário fazer uma retrospectiva analítica da vida deste homem que abalou a sociedade medieval nos dois principais pilares, a religião e a política.

Lutero foi o primogênito de uma família pobre e humilde. Nasceu no dia 10 de novembro de 1483, na cidade de Eisleben, na Alemanha. Seus pais Hans e Margarethe eram muito religiosos e, por isso, levaram seu primeiro filho ao batismo no dia seguinte, na Igreja de São Pedro e São Paulo e lhe deram o nome de Martinho, em homenagem ao santo reverenciado naquele dia. A infância de Lutero se deu na cidade de Mansfeld, onde aprendeu a ler e escrever, a memorizar os Dez Mandamentos, o Credo Apostólico e a oração do Pai Nosso, entretanto sem a menor explicação e aplicação do verdadeiro sentido destes preceitos. Ainda na infância, a vocação pela música e pelo canto já era evidente.

A vida escolar de Lutero não foi fácil. Não havia escolas públicas gratuitas e mais tarde deixaria escrito:

“Meu pai, em sua juventude, era um pobre mineiro; mamãe trazia toda a lenha para casa nas costas, sacrificando-se para nos poder educar. Sujeitaram-se a uma vida extremamente penosa”.

No inverno, ainda garotinho, foi carregado nos braços por amigos mais velhos, por causa da neve que dificultava a ida e o retorno da escola. Por outro lado, todo este processo fez parte do início de sua formação intelectual. Desde cedo, demonstrava interesse pelos estudos e, aos 14 anos, tendo concluído todas as séries iniciais, deixou a casa de seus pais para ingressar na escola do mosteiro de Magdeburgo.

Para avançar nos estudos, mudou-se para Eisenach, onde passou muitas dificuldades e privações. Mesmo assim não desistiu. Para custear os seus estudos e ter o pão de cada dia, cantava diante das casas da cidade e em troca recebia algum dinheiro e alimentos. Sua voz se destacava e o casal Conrado e Úrsula Cotta o acolheu em sua casa. Assim ganhou mais tempo para os estudos. Foi nesta época que aprendeu oratória, línguas antigas, poesia e a tocar alaúde, um instrumento de cordas de origem árabe.

Aos 18 anos, Lutero ingressou na conceituada Faculdade de Direito de Erfurt, para estudar jurisprudência. Seu pai, que trabalhava nas minas de cobre, já imaginava o seu filho prefeito ou pessoa influente, talvez conselheiro municipal.

Lutero sempre se destacou na universidade, ao ponto dos próprios colegas o apelidarem de filósofo e músico. Nesta universidade, considerada a mais famosa da Alemanha, ele estudou ciências naturais, história, direito, filosofia e astronomia, e foi na biblioteca que ele descobriu, aos 20 anos, pela primeira vez, uma Bíblia completa escrita em latim. Sem dúvida, a leitura deste Livro Sagrado prendeu a sua atenção, e, por outro lado, aumentou ainda mais o conflito com que se debatia em seu espírito e que lhe perturbava sobremaneira. Pois a religião que conhecia até então, era de um Deus irado e que exigia dos fiéis muita penitência e a realização de muitas boas obras para que se pudesse obter a bem-aventurança e a salvação eterna.

Aos 19 anos, conquistou o título de bacharel e com 21 anos, alcançou o mestrado em artes em segundo lugar. A alegria dele e da família foi muito grande, pois, a partir deste momento, estava apto a lecionar filosofia na Universidade de Erfurt. Contudo, uma mudança radical em sua vida ocorreu em uma de suas viagens, ao passar por uma terrível tempestade. Com medo de morrer invocou a proteção de Santa Ana para livrá-lo daquele momento e, em troca, ingressaria em um convento e se tornaria monge.

Esta decisão não agradou o seu pai que ficou muito contrariado. Já os colegas da universidade ficaram perplexos com esta decisão, sem compreenderem esta atitude.

Lutero entrou para o Convento Agostiniano dos Frades Mendicantes, uma das Ordens mais severas de Erfurt, fazendo o tríplice voto de obediência, pobreza e castidade. Foi neste Convento que continuou a estudar, mas com o foco centrado nos ensinamentos bíblicos e nas línguas antigas, principalmente, dedicando-se a estudar o livro dos Salmos, as cartas de Paulo aos Romanos e aos Gálatas.

ção de Lutero era notável, e o príncipe Frederico, o Sábio, que havia fundado uma universidade na cidade Wittenberg, o convidou para lecionar, pois necessitava de pessoas com alto grau de conhecimento. Continuando seus estudos, agora na biblioteca desta universidade, começou a atrair cada vez mais jovens e, inclusive, ilustres professores para ouvir as explicações que dava sobre as Escrituras. O reitor Pollich afirmou em certa ocasião: “Nenhuma filosofia poderá destruir esta Palavra”. As pregações de Lutero causaram um grande impacto e admiração por parte de quem o ouvia, pois falava com conhecimento e asseverava com firmeza: “Está escrito! Assim diz o Senhor”.

ítulo acadêmico, o de doutor em Teologia. Enquanto todos os sinos de Wittenberg tocavam, lhe foi entregue o capelo e o anel de doutor. Seus estudos continuaram e se convencia cada vez mais da necessidade da Igreja mudar e abandonar seus erros, e seguir pelos caminhos traçados pelo próprio Jesus e pelos apóstolos. Infelizmente, as consequências da determinação de Lutero foram a sua condenação decretada pelo Imperador Carlos V e a excomunhão por parte da Igreja Católica. A argumentação de Lutero sempre foi: “Me convençam com as Escrituras Sagradas e reconhecerei o erro do qual me acusam”.

Lutero tornou-se um intelectual, escritor, professor, educador e pregador por causa da educação. Esta foi a mola propulsora e a chave da mudança de sua vida, da história do cristianismo e da sociedade de sua época, com repercussão pelo mundo até os dias atuais. Nada o afastou dos estudos, nem a neve na infância, nem as dificuldades financeiras, ou as enfermidades. Tornou-se o líder da reforma protestante pela sua persistência e capacidade em divulgar a grande redescoberta do que está escrito na carta de Paulo aos Romanos 1.17: “O justo viverá por fé”.

Lutero deixou escrito que: “A Bíblia é uma erva, quanto mais se manuseia, mais perfume ela exala”. Que possamos nós, em pleno século 21, ao comemorarmos os 500 anos da Reforma, ter a mesma determinação de Lutero pelos estudos, principalmente das verdades reveladas na Bíblia e, assim, encontrar a paz.


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