CONVERSAS À MESA (TISCHREDEN) PT. 35/47 - DA MORTE

Categoria: Conversas à Mesa [Tischreden]
Imagem: Martinho Lutero (no centro) - eBiografia
Publicado: 20 de Fevereiro de 2023, Segunda Feira, 17h56

DCCXLI.
Morrer pela causa da Palavra de Cristo é algo precioso e glorioso diante de Deus. Somos mortais devido aos nossos pecados, mas quando morremos por causa de Cristo e de Sua Palavra, e os confessamos publicamente, morremos uma morte honrosa; assim somos feitos relíquias sagradas e vendemos nossas peles com um preço elevado. Mas quando nós cristãos oramos pela paz e vida longa, não é por nossa causa, mas por causa da igreja e da posteridade. O medo da morte é meramente a própria morte; aquele que abole esse medo do coração, não prova e nem sente a morte. Uma criatura humana dormindo é muito parecida com aquela que está morta; os antigos já diziam que o sono é irmão da morte. Da mesma forma, a vida e a morte são retratadas para nós durante o dia e durante a noite, no decorrer da mudança das estações.

O sonho que tive ultimamente será realizado; eu estava morto e coberto de trapos ao lado do meu túmulo. Então há muito tempo estou condenado a morrer, mas ainda assim vivo.

DCCXLII.
“Quem guarda a minha palavra, nunca verá a morte.” Lutero explicou essa passagem de São João dessa maneira: devemos sofrer e morrer, mas aquele que se apega à Palavra de Deus não sentirá a morte, mas partirá como em um sono; e a respeito dele não se dirá: Eu morro, mas sou forçado a dormir. Por outro lado, aquele que não se encontra provido da Palavra de Deus, deve morrer em angústia; portanto, em seu leito de morte, não discuta absolutamente sobre nada, e sim apenas diga em seu coração: Eu creio em Jesus Cristo, o Filho de Deus, e não questiono mais.

DCCXLIII.
O trigésimo oitavo ano é um ano mau e perigoso trazendo muitas doenças pesadas e graves; naturalmente, talvez por causa dos cometas e conjunções de Saturno e Marte, mas espiritualmente por causa dos inúmeros pecados cometidos pelo povo.

DCCXLIV.
Plínio, o escritor pagão, tinha registrado no capítulo 1 de seu livro XX: O melhor remédio para uma criatura humana é morrer em breve; Júlio Cesar foi ameaçado de morte e não se preocupou com o perigo; ele disse: “É melhor morrer uma vez do que ter medo de morrer continuamente”; isso era bom o suficiente para um pagão, mas não devemos tentar a Deus e sim usar meios que Ele nos fornece para depois nos comprometer com a sua misericórdia.

Seria uma questão fácil para um cristão vencer a morte se caso soubesse que não é a ira de Deus; essa qualidade torna a morte amarga para nós. Mas um pagão morre com segurança, pois ele não reconhece a ira de Deus achando que é apenas o fim da natureza. O epicurista diz que é apenas um meio de suportar uma hora ruim.

DCCXLV.
Quando fico sabendo que um homem justo e piedoso morreu, eu fico apavorado achando que Deus odeia o mundo e que está levando para Ti os justos e os bons para que somente os ímpios fiquem e recebam a punição. Não importa se eu morrer; pois estou na maldição e na excomunhão do papa; eu sou o demônio dele, então ele me odeia e me persegue. Em Coburg, eu andei procurando um lugar para a minha sepultura; Pensei em ser enterrado na capela-mor sob a mesa, mas agora mudei de opinião. Sei que não tenho muito tempo de vida, pois minha cabeça é como uma faca que foi muito bem afiada, mas que se tornou um mero ferro. Esse ferro não cortará mais, e assim é com a minha cabeça. Agora, amoroso Deus, espero que meu tempo não passe mais daqui pra frente; Deus me ajude e me dê um momento feliz, pois eu não desejo mais continuar vivendo.

DCCXLVI.
Lemos que São Vicente, em seu leito de morte, disse: “Morte! O que você quer? Você acha que vai ganhar alguma coisa de um cristão? Você não sabe que eu sou cristão?” Dessa maneira devemos aprender a desprezar a morte. Na história de São Martinho está registrado que, em seu leito de morte, ele viu o diabo parado aos pés de sua cama e disse corajosamente: “Por que você está aí parado, sua besta horrível? Tu não tens nada a ver comigo!” Essas foram as palavras corajosas e de fé. Coisas semelhantes devemos excluir das lendas dos santos, omitindo completamente as tolices que os papistas introduziram nelas.

DCCXLVII.
Em Wittenberg, Lutero se encontrou com um homem muito melancólico e disse-lhe: Ah! Criatura humana, o que estás fazendo? Você não tem mais nada em mãos a não ser se preocupar em seus pecados, morte e condenação? Desvie rapidamente seus olhos e mire para Cristo que foi concebido pelo Espírito Santo, nascido da Virgem Maria, e que sofreu, morreu, foi sepultado e desceu até o inferno até que, no terceiro dia, ressuscitou dentre os mortos e, em seguida, subiu aos céus, etc. Você acha que tudo isso foi feito sem propósito algum? Anime-se contra a morte e contra o pecado; não há motivo algum para temer ou até mesmo desmaiar; Cristo sofreu a morte por ti e prevaleceu para o teu consolo e defesa, não é a toa que Ele está sentado à direita de Deus, seu Pai Celestial, para te livrar.

DCCXLVIII.
Tantos membros e tantas mortes nós temos. A morte espreita cada membro. O diabo, causador e senhor da morte, é o nosso adversário e persegue a nossa vida; ele jurou a nossa morte e nós a merecemos. Mas o diabo não ganhará estrangulando os piedosos; ele apenas quebrará uma noz oca. Morramos para que o demônio descanse. Eu mereço a morte em dobro; primeiro porque pequei contra Deus, e estou sinceramente arrependido. E segundo porque eu mereço morrer nas mãos do diabo, cujo reinado de mentiras e assassinatos eu destruí através da ajuda, da graça e da misericórdia de Deus. Então ele deseja justamente a minha morte.

DCCXLIX.
“Surgirão muitos falsos profetas que enganarão até mesmo os escolhidos”. Essa sentença foi cumprida através dos Padres como Jerônimo, Agostinho, Gregório, Bernardo entre outros. Eles foram seduzidos pelos erros, mas não permaneceram neles. São Bernardo escreveu muitas coisas más e ímpias, especialmente a respeito da Virgem Maria; mas quando ele estava em seu leito de morte, ele tinha dito: “Eu vivi impiamente. Tu, amado Senhor Jesus Cristo, tens direito duplo ao reino dos céus; primeiro, é a tua herança porque tu és o Filho unigênito do Pai; isso não me dá conforto ou esperança do céu. Mas, em segundo lugar, tu comprastes o mesmo com o seu sofrimento e morte; tu acalmastes a ira do Pai, abristes o céu e o apresentastes a mim como o teu bem adquirido; disso eu tenho alegria e consolo.” Então ele morreu bem e feliz. Da mesma forma, quando Santo Agostinho estava perto de morrer, ele rezou os sete salmos penitenciais. Quando esses Padres estavam com saúde, eles não pensavam nessa doutrina; mas quando eles estavam em seus leitos de morte, eles encontraram em seus corações em quem deveriam confiar; eles sentiram que era hora de abandonar o janotismo humano e se dirigirem apenas a Cristo confiando em seus ricos e preciosos méritos.

DCCL.
Deus Eterno Todo-Poderoso e misericordioso Pai Celestial, e Pai do nosso amado Senhor Jesus Cristo, eu tenho a absoluta certeza que tudo o que dissestes podes ser realizado, pois em Ti não há mentiras; Tua Palavra é justa e verdadeira. No princípio, tu me prometestes o teu amado filho unigênito Jesus Cristo; Ele veio e me libertou do diabo, da morte, do inferno e do pecado. Por sua vontade graciosa, Ele me apresentou os sacramentos que usei com fé e me abracei a Tua Palavra; portanto não tenho dúvidas de que estou muito bem seguro e em paz; se caso esta for a minha hora então que a tua vontade seja feita, e também estou disposto a partir daqui com alegria.

DCCLI.
Dizem que a escola da fé é acompanhada pela morte. A morte é tragada pela vitória. Se é a morte, então o pecado. Se é a morte, então todas as enfermidades. Se é a morte, então todas as misérias. Se é a morte, então todo o poder do diabo. Se é a morte, então toda a fúria do mundo.

Mas essas coisas não aparecem, mas sim o contrário; portanto, há necessidade de fé; pois uma manifestação pública das coisas segue a fé no devido tempo, quando as coisas invisíveis serão vistas.

DCCLII.
Quando Adão viveu, isto é, quando caiu no pecado, a morte devorou a vida; quanto Cristo morreu, isto é, foi justificado, então a vida, que é Cristo, tragou e devorou a morte; portanto, Deus seja louvado porque Cristo morreu e obteve a vitória.

 

Fonte: CRTA - Center for Reformed Theology and Apologetics - reformed.org
Tradução: Marcell de Oliveira


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