CONVERSAS À MESA (TISCHREDEN) PT. 36/47 - DA RESSURREIÇÃO

Categoria: Conversas à Mesa [Tischreden]
Imagem: Martinho Lutero (no centro) - eBiografia
Publicado: 21 de Fevereiro de 2023, Terça Feira, 14h40

DCCLIII.
No domingo de Páscoa de 1544, Lutero tinha realizado um excelente sermão sobre a ressurreição dos mortos a partir da epístola designada para aquele dia, lidando com essa frase: “O que o insensato semeia não é vivificado, a menos que morra.” Quando Abraão planejava sacrificar seu filho, ele acreditava que Deus iria ressuscitá-lo das cinzas e oferece-lhe uma descendência. A fé de Adão e Eva os preservou porque creram na semente prometida. Pois todas as coisas são possíveis para aqueles que acreditam. A concepção de toda criatura humana procede de uma gota de sangue e isso não inferioriza os milagres e as maravilhas de Deus em comparação de ter utilizado o pó da terra para criar Adão e, através de suas costela, ter criado a Eva. O mundo é cheio de maravilhas, mas nós somos tão cegos que somos incapazes de enxergá-las. O mundo inteiro não é capaz de criar um membro, nem mesmo uma pequena folha. O método da ressurreição consiste nestas palavras: “Levantai-vos, vinde, apareça, alegrai-vos vós que habitais no pó da terra.” Eu me levantarei novamente e falarei com você; o meu dedo que aponta para você da mesma maneira irá voltar para mim; tudo deve voltar, pois está escrito: “Deus criará um novo céu e uma nova terra, onde habitará a justiça.” Não será uma espécie de deserto, mas sim uma nova e bela terra onde todos os justos habitarão juntos. Não haverá feras carnívoras ou criaturas venenosas, pois todos serão libertados da maldição do pecado e serão amigáveis conosco como Adão e Eva no Paraíso. Haverá pequenos deuses de cabelos dourados e brilhando como pedras preciosas. A folhagem da árvore e o verde da grama terão o brilho das esmeraldas; e nós mesmos, que estaremos libertos do nosso mundanismo, teremos a mesma forma que aqui, mas infinitamente mais perfeita. Nossos olhos brilharão como a mais pura prata e estaremos isentos de todas as enfermidades e tribulações. Veremos nosso glorioso Criador face a face; imagino a satisfação inefável que vai ser quando encontrar com os nossos parentes e amigos entre os justos! Se fôssemos todos um aqui deveríamos ter paz entre nós, mas Deus ordena de uma forma diferente. Então fiquemos aqui ansiosos e suspirando pelo futuro lar paternal para o descanso dessa vida problemática que passamos. Agora, se a alegria é para os escolhidos, então a angústia e o desespero são para os condenados.

DCCLIV.
Em 7 de agosto de 1538, Lutero discursou sobre a vida futura dizendo: Na minha enfermidade já avançada, fiquei muito fraco e me entreguei a Deus, pois muitas coisas me vieram em mente a respeito da vida eterna sobre a alegria que teremos lá; e eu estou convencido de que tudo será revelado por meio de Cristo e nisso nós cremos. Aqui na terra não podemos saber o que será a criação do novo mundo, visto que não estamos nem preparados para compreender a criação deste mundo temporal com suas criaturas corporais e visíveis. As alegrias eternas estão muito além da compreensão de qualquer criatura humana. Como Isaías tinha dito: “Sereis eternamente alegres em gloriosa alegria.” Mas como não podemos crer na Palavra de Deus, visto que todas as coisas que a Escritura nos mostra a respeito da ressurreição dos mortos vão se cumprir? Isso prova o pecado original como a causa dele. Os ímpios e condenados estarão sob a terra no último dia, mas haverá um certo momento em que eles contemplarão as grandes alegrias e glórias dos escolhidos e salvos, então eles estarão em grande aflição e tormento.

Nosso Senhor Deus criou este reino evanescente e temporal, o céu e a terra, e tudo o que neles há, tão belo; imagina quão mais belo será aquele reino eterno celestial.

DCCLV.
Quando eu ainda era pequeno e amamentado pela minha mãe, eu não tinha noção nenhuma sobre comer, beber e viver depois. E dessa mesma maneira, nós aqui na terra não temos ideia do como será a vida por vir.

DCCLVI.
Considero o ranger de dentes dos condenados como uma dor imensurável seguido de uma consciência pesada, ou seja, o desespero de reconhecer que está sendo abandonado por Deus.

DCCLVII.
Desejo de coração que Zuínglio pudesse ser salvo, mas temo o contrário; pois Cristo disse que aqueles que o negam serão condenados. O julgamento de Deus é justo e podemos pronunciá-lo com segurança contra todos os ímpios, a menos que Deus preserve para si mesmo um privilégio e dispensação peculiares. Da mesma maneira foi com Davi que desejou de coração a salvação de seu filho Absalão quando disse: “Absalão, meu filho, Absalão, meu filho!” No entanto, Davi tinha certeza de que seu filho estava sendo condenado e lamentou por isso, não apenas por ele ter morrido corporalmente, mas também por ter se perdido para sempre; pois ele sabia que seu filho havia morrido em rebelião, em incesto, e que havia expulsado sei pai para fora do reino.

DCCLVIII.
Os Padres criaram quatro tipos de inferno. Primeiro é a vanguarda onde, segundo eles, o patriarca estava antes de Cristo descer ao inferno. Segundo é a sensação de dor temporal, como o purgatório. O terceiro é onde estão as crianças que não foram batizadas, mas também não sentem dores. E o quarto é onde estão os condenados que estão mergulhados na dor eterna. O quarto é o inferno correto, os três anteriores são apenas imaginações humanas. No papado eles cantaram uma canção maligna: “Nossos suspiros te invocaram, nossas lamentações te buscaram”, etc. Isso não tem nada de cristão, pois Evangelho diz: “Eles estão no seio de Abraão.” E também em Isaías: “Eles vão para os seus aposentos,” E no Eclesiástico: “O justo está nas mãos do Senhor, então deixe-o morrer como quiser embora seja vencido pela morte.” O que é o inferno, não sabemos; O que apenas se sabe é que existe um lugar seguro e justo como está escrito sobre o rico glutão quando Abraão lhe disse: “Há um grande abismo entre você e nós.”

DCCLIX.
Ah! Amado Deus, não adie a sua vinda. Estou aguardando impacientemente o dia em que a primavera retornará onde o dia e a noite terão a mesma duração e a aurora será clara e brilhante. Haverá um dia que uma espessa nuvem negra surgirá da qual sairão três relâmpagos seguidos de um forte trovão fazendo com que o céu e a terra sejam cobertos de confusão em um determinado momento. O Senhor seja louvado pois nos ensinou a aguardar por aquele dia. Todos no papado tem medo disso como é visto através de seus hinos, Dies irae dies illa. Eu espero que esse dia não esteja tão longe. Cristo diz: “Naquele dia, dificilmente encontrareis fé na terra.” Se fizermos uma conta, descobriremos que temos o Evangelho agora apenas em um canto. A Ásia e a África não possuem o Evangelho, e também na Europa há lugares onde também o Evangelho não é pregado como na Grécia, na Itália, na Hungria, na Espanha, na França, na Inglaterra e na Polônia. E esse cantinho onde fica a Saxônia não impedirá a vinda do último dia do Juízo Final. As previsões do apocalipse já estão se cumprindo, até o cavalo branco. O mundo não pode durar muito, talvez cem anos no máximo. “Há um grande abismo entre você e nós”.

Quando os turcos começarem a declinar, então o último dia estará próximo; a testemunha da Escritura deve ser verificada. O amoroso Senhor virá como diz a Escritura: “Pois assim diz o Senhor dos Exércitos: mais um pouco farei tremer os céus, a terra e os mares; e farei tremer todas as nações, e o Desejado de todas as nações virá.” No final haverá uma grande comoção entre os homens. Nunca os homens da lei tiveram tanta ocupação como agora. Há dissensões veementes em nossas famílias e discórdias na igreja.

DCCLX.
No mês de abril, próximo a Páscoa, quando eles menos temiam pela chuva, o Faraó foi engolido pelo Mar Vermelho e a nação israelita foi liberta do Egito. Foi mais ou menos a mesma hora em que o mundo foi criado; ao mesmo tempo os anos passam e, ao mesmo tempo, Cristo ressuscitou para renovar o mundo. Talvez o último dia chegue mais ou menos na mesma hora. Sou da opinião que será na Páscoa, que é o tempo mais belo, e ainda por cima de manhã cedo, ao nascer do sol, como na destruição de Sodoma e Gomorra. Os elementos ficarão sombrios com terremotos e trovões por cerca de uma hora ou pouco mais, e as pessoas seguras dirão: “Ah! Seu tolo! Você nunca tinha ouvido um trovão?”

DCCLXI.
Eu gosto muito da ciência alquimista, pois é uma filosofia dos antigos. Gosto dessa ciência não apenas pelo proveito que traz na fusão dos metais, na preparação de decocção, extração e destilação de ervas e raízes; Eu gosto devido a alegoria que traz e o mistério que há por trás que é extremamente bom e tocante a ressurreição dos mortos no último dia. Pois assim como a fornalha cujo fogo extrai e separa a substância das porções e carrega para cima o espírito, a vida, a seiva, a força e, enquanto a matéria impura, a escória, permanece no fundo como uma carcaça morta e sem valor; assim também é Deus no dia do Juízo, que irá separar todas as coisas através do fogo, os justos dos ímpios. Os cristãos ascenderão aos céus e lá viverão eternamente, mas os ímpios, como a escória e a imundície, permanecerão no inferno e lá serão condenados.

 

Fonte: CRTA - Center for Reformed Theology and Apologetics - reformed.org
Tradução: Marcell de Oliveira


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