CONVERSAS À MESA (TISCHREDEN) PT. 30/47 - DE OFENSAS

Categoria: Conversas à Mesa [Tischreden]
Imagem: Martinho Lutero (no centro) - eBiografia
Publicado: 18 de Fevereiro de 2023, Sábado, 19h18

DCLXXXIII.
Quando lemos que Judas se enforcou e sua barriga estourou fazendo cair suas entranhas, podemos tomar isso como um exemplo de como será o destino de todos os inimigos de Cristo. Os judeus deveriam se espelhar em Judas, pois eles são como Judas e deveriam ser destruídos da mesma forma. Há uma alegoria por trás desse ocorrido onde a barriga representa todo o reino dos judeus que logo será destruído sem deixar nenhum vestígio. Quando lemos que as entranhas caíram, isso mostra sobre a posteridade dos judeus, ou seja, toda a sua geração se deteriorará e irá ao chão.

DCLXXXIV.
Posso comparar o estado de um cristão a um ganso amarrado sobre um poço cavado para pegar lobos. Nesse poço há muitos lobos arrepiantes que devorariam de bom grado o ganso, mas o ganso estaria bem preservado enquanto que os lobos saltavam sobre ele e, em seguida, caem no poço e acabam mortos. Da mesma maneira nós, cristãos, somos preservados pelos doces anjos amorosos de modo que os demônios, que são como aqueles lobos devoradores, tiranos e perseguidores, não nos alcançam e não conseguem nos destruir.

DCLXXXV.
Pouco sabemos o quão bom e necessário são os adversários e os hereges baterem a cabeça contra nós. Pois se Cerinthus não tivesse sido um heresiarca, então São João o evangelista não teria escrito seu evangelho. Então quando Cerinthus se opôs à divindade de Nosso Senhor Cristo, João estava restrito a escrever: No começo era o Verbo; tornando a distinção das três pessoas de uma maneira mais clara e compreensível. Daí quando comecei a escrever contra as indulgências e contra o papa, o Dr. Eck me despertou da sonolência. Eu desejo no fundo do meu coração que este homem possa se reencontrar de uma certa maneira e se converter; eu daria um dos meus dedos por isso; Mas caso ele permanecer de onde ele está, então eu gostaria que ele fosse feito papa, pois ele merece; Visto que até agora ele tem carregado todo o buraco do papado para discutir e escrever contra mim. Além dele, não há mais ninguém que caia sobre mim; Ele focou nas minhas primeiras cogitações contra o papa que, se fosse de uma outra forma, talvez eu nunca deveria ter continuado.

DCLXXXVI.
Um mentiroso é pior que um assassino na estrada, pois é o mentiroso que realiza as maiores e piores travessuras. É um falso mestre que engana as pessoas, seduz as almas e as destrói sob a cor da Palavra de Deus; Tanto o mentiroso quanto o assassino era o Judas como seu pai, o diabo. Foi uma maravilha ver Judas sentado à mesa com Cristo e não ter se envergonhado quando Cristo disse: “Um de vocês me trairá.”, etc. Os outros discípulos jamais imaginariam que seria Judas que trairia Cristo; cada um tinha medo de si mesmo, pensando que Cristo iria apontar para um deles como traidor; visto que Cristo confiava em Judas como tesoureiro e de toda a administração e manutenção da casa, sendo um exemplo de grande reputação pelos apóstolos.

DCLXXXVII.
Um escorpião acha que não pode ser visto quando sua cabeça está escondida sob uma folha; Da mesma maneira são os hipócritas e os santos falsos que acham que através de suas boas obras todos os seus pecados passam a ser perdoados.

DCLXXXVIII.
Os falsos cristãos que se gabam do evangelho e ainda não trazem bons frutos, são como nuvens sem chuva onde todos os elementos são ofuscados e sombrios que não frutificam o chão. E dessa maneira muitos cristãos são alcançados por essa suposta santidade que não tem fé e nem amor por Deus, muito menos amor pelo seu próximo.

DCLXXXIX.
Jó disse: “A vida de uma criatura humana é uma guerra na terra.” Uma criatura humana, especialmente um cristão, deve ser um soldado sempre lutando contra o inimigo. E São Paulo nos apresenta a armadura de um cristão em Efésios VI dessa maneira:

Primeiro – o cinto da verdade, ou seja, a confissão da Sã Doutrina do Evangelho, uma fé vertical onde não há hipocrisia ou falsidade.

Segundo – a couraça da justiça que não significa a justiça de uma boa consciência, embora também seja necessário, pois está escrito: “Não entre em julgamento com teu servo”, etc.; E São Paulo continua: “Não reconheço nada de mim mesmo, pois não sou assim justificado”, mas sim pela justiça da fé e da remissão de pecados conforme Paulo explicou citando o que Moisés falou e Gen XV.: “Abraão acreditava em Deus, e isso lhe foi imputado pela justiça.”

Terceiro – os sapatos para calçar os pés, ou seja, as obras da vocação pelas quais devemos permanecer sem ir além do que nos foi permitido.

Quarto – o escudo da fé que é semelhante a fábula de Perseu com a cabeça de Górgona sobre a qual quem a olhasse morreria imediatamente. Perseu obteve a vitória lançando a cabeça de Górgona diante de seus inimigos, e dessa maneira um cristão deve lançar o Filho de Deus, como a cabeça de Górgona, para obter a vitória contra as artimanhas do diabo.

Quinto – o capacete da salvação que é a esperança da vida eterna. A arma com a qual um cristão luta contra o inimigo é: “A espada do Espírito”, 1 Tess. V., isto é, a Palavra de Deus e a oração; pois como um leão que pode se assustar com um simples canto de um galo, então da mesma maneira o diabo pode ser superado e vencido com uma simples Palavra que pertence a Deus e a oração; O próprio Cristo já nos deu exemplo disso.

DCXC.
Nossa vida é como a navegação de um navio; assim como os marinheiros que possuem um porto seguro no qual dirigem seu curso e onde estarão seguros de todo o perigo, assim também é a promessa de uma vida eterna feita para nós que seguimos, como um porto seguro, para estarmos calmos e tranquilos. Mas reconhecemos que o nosso navio é fraco e que os ventos e as ondas são fortes sobre nós, então ficamos sobrecarregados; daí precisamos de um piloto bom e experiente que nos forneça bons conselhos para governar o navio para não bater em uma pedra, ou afundar completamente no caminho. Esse piloto é o nosso abençoado Salvador Cristo Jesus.

DCXCI.
A ingratidão é algo muito irritante que nenhum homem pode tolerar; mas o nosso Senhor Deus consegue tolerar isso. Se eu tivesse lidado com os judeus, minha paciência teria se esgotado; Eu nunca conseguiria tanto tempo para tolerar tamanha teimosia. Os profetas sempre foram pessoas pobres e condenadas; eles eram atormentados e perseguidos não somente publicamente, mas também por inimigos internos e em segredo sendo a grande maioria dos inimigos o seu próprio povo. O que o papa faz contra nós não é nada comparável com o que Jekyll e outros fazem para a nossa tristeza de coração.

DCXCII.
Devemos diligentemente estar cientes do sofisticado que não consiste apenas em palavras duvidosas e incertas que podem ser interpretadas de acordo com o agrado da pessoa, mas também em cada profissão e em todas as altas artes como na religião que carrega o nome justo das Escrituras Sagradas alegando ser a Palavra de Deus que veio do céu. Isso é indigno de louvor que pode perverter, ferrar, condenar e rejeitar todos os pensamentos dos outros, como o debate do filósofo Carneades em parte utraque que ainda não houve uma conclusão definitiva. São truques desonestos e invenções sofisticadas, mas realizados com um excelente entendimento honestamente disposto que busca a verdade e ama o que é claro e vertical, e é digno de toda honra e louvor.

DCXCIII.
Os crimes cometidos por cristãos são muito mais abomináveis que os crimes cometidos por pagãos. O profeta Jeremias tinha dito: “A punição da iniquidade da filha do meu povo é maior que a punição do pecado de Sodoma”, etc. e Ezequiel: “Você justificou Sodoma com tuas abominações”. E Cristo: “Será mais tolerável para Sodoma no dia do julgamento do que contigo”. E esse que não pode faltar: “Ele veio para os seus, e os seus não o receberam.” Na verdade, isso deixa o piedoso completamente fraco de coração que acaba preferindo a morte, visto que a tristeza de coração do nosso povo ofende muito os outros. Devemos diligentemente orar a Deus contra as ofensas até o fim, e seu nome deve ser consagrado. São Paulo diz: “Surgirão homens que torcerão a verdade com o propósito de conquistar discípulos para si.” Por isso que a Igreja não deveria possuir uma sucessão ou herdeiros.

DCXCIV.
É verdade que há muitas ofensas que saem da minha doutrina, mas eu me conforto como São Paulo em Tito; Estamos apenas querendo ser sinceros com a doutrina revelada por causa da fé em Deus e que também pregamos. Se for por causa dos outros, então eu não soltaria nenhuma palavra. Eu quebrei muitas nozes ocas achando que eram boas e acabaram esfarelando dentro da minha boca; Carlstad e Erasmus são meras nozes ocas que sujam a boca.

DCXCV.
Foi me perguntado: Seria uma ofensa desculpável estar comprometido com um momento de embriaguez? Com certeza, não; pelo contrário, a embriaguez agrava o erro. Pecados escondidos se revelam em público através da embriaguez; tudo aquilo que o homem sóbrio mantém em seu peito, o homem bêbado solta os lábios. Pessoas astutas que querem determinar o verdadeiro caráter de um homem, acabam embriagados. Essa mesma embriaguez é um vício grave entre nós alemães, e deve ser fortemente punido pelos magistrados, visto que o temor a Deus não é suficiente para manter os beberrões sob controle.

DCXCVI.
Um judeu rico, em seu leito de morte, ordenou que seus restos mortais fossem transportados para Ratisbon. Seus amigos, sabendo que o cadáver de um judeu não podia viajar sem pagar por um preço bem elevado, criaram uma embalagem para o corpo colocando-o em um barril de vinho que eles encaminharam da maneira comum. Os vagões, sem saber o que estava dentro, levaram o barril com alegria até descobrirem que estavam bebendo conservas de judeu! Não quero nem imaginar o resultado disso tudo.

 

Fonte: CRTA - Center for Reformed Theology and Apologetics - reformed.org
Tradução: Marcell de Oliveira


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