CONVERSAS À MESA (TISCHREDEN) PT. 15/47 - DO BATISMO


Categoria: Conversas à Mesa [Tischreden]
Imagem: Martinho Lutero (no centro) - eBiografia
Publicado: 16 de Janeiro de 2023, Segunda Feira, 13h44

CCCXL.
Os antigos mestres ordenavam três tipos de batismo: da água, do Espírito e do sangue; tais batismos são celebrados pela igreja. Os catecúmenos foram batizados nas águas; aqueles que não puderam ser batizados nas águas e mesmo assim creram, foram salvos pelo Espírito Santo, como foi o caso de Cornélio que foi salvo antes de ser batizado. O terceiro batismo é o de sangue, ou seja, referente ao martírio.

CCCXLI.
O céu me é dado pela graça. Tenho certeza disso através da confirmação recebida por convênios selados, isto é, sou batizado e participo do sacramento da Ceia do Senhor. Portanto, mantenho o vínculo certo e seguro para que o diabo não o rasgue em pedaços; isto é, eu vivo e permaneço no temor de Deus e oro constantemente a Ele. Deus não poderia ter me dado melhor segurança de minha salvação e do Evangelho do que pela morte e paixão do seu único Filho: quando creio que Ele venceu a morte e morreu por mim, e com isso contemplei a promessa do Pai, então tenho o vínculo completo. E quando tenho o selo do batismo e a Ceia do Senhor prefixados, então estou muito bem provido.

CCCXLII.
Foi-me perguntado: quando existe uma incerteza a respeito da pessoa ser batizada ou não, ela pode ser batizada sob esta condição – Se você não for batizado, então eu te batizo? Eu respondi: A igreja não deve reconhecer tal batismo, embora haja dúvida sobre o batismo anterior de qualquer pessoa, mas ela receberá o batismo puro e simples sem qualquer condição.

CCCXLIII.
Os papistas, em suas confissões privadas, consideram apenas a obra. Haviam tantos processos para a confissão que eles nunca ficavam satisfeitos; se uma pessoa esquecer de confessar, por mais simples que seja, e logo em seguida vier na lembrança, essa pessoa logo volta ao seu confessor para confessar novamente. Eu cheguei a conhecer um doutor em Direito que estava tão empenhado em confessar que, antes mesmo de receber o sacramento, chegou a ir três vezes ao seu confessor. No meu tempo de papista nós deixávamos nossos confessores exaustos e, mesmo assim, eles nos deixavam perplexos com suas absolvições condicionais; pois eles absolviam desta maneira: “Eu te perdoo e te liberto em razão dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, da tristeza do teu coração, da confissão de tua boca e da satisfação das tuas obras”, etc. Essas condições e o que se refere a elas foram a causa de um grande dano. Tudo isso fizemos por medo para assim sermos justificados e salvos diante de Deus; estávamos tão perturbados e sobrecarregados com as tradições dos homens que Gerson foi constrangido ao afrouxar o freio de sua consciência e aliviá-lo; ele foi o primeiro a escapar desta prisão, pois escreveu que não era um pecado mortal negligenciar as ordenanças da igreja, ou agir de forma contrária a elas, a menos que fosse feito por desprezo, deliberadamente, ou de uma mente teimosa. Essas palavras, embora fossem fracas e poucas, ainda assim levantavam e confortavam muitas consciências.

Contra tal dependência e escravidão, escrevi um livro sobre a liberdade cristã mostrando que tais leis rígidas e as ordenanças de invenções humanas não devem ser valorizadas. Existem agora certos sujeitos grosseiros, ignorantes e inexperientes que nunca sentiram tal cativeiro, e que presunçosamente se comprometem a condenar e rejeitar todas as leis e ordenanças.

CCCXLIV.
Se caso uma mulher assassina de seu filho fosse absolvida por mim e, logo mais tarde, o crime dela fosse descoberto, e eu fosse interrogado perante o juiz, então eu poderia muito bem testemunhar a ocorrência – mas devemos diferenciar o que é igreja e o que é governo temporal. Ela confessou não a mim como um homem, mas a Cristo. E se Cristo guardar silêncio, então é meu dever me silenciar também e dizer: Não sei nada sobre o assunto; se Cristo ouviu, então ele pode falar sobre isso; embora, enquanto isso, eu diria em particular para a mulher: Miserável, não faça mais isso. Pois, embora eu não seja homem para falar perante o tribunal, em causas temporais com questões que afetam a consciência, devo amedrontar os pecadores com a ira de Deus contra o pecado por meio da lei. Aqueles que reconhecem e confessam seus pecados devo confortá-los pela pregação do Evangelho. Não seremos atraídos para seus assentos de justiça e mercados de ódio e dissensão. Até agora protegemos e mantivemos a jurisdição e os direitos da igreja e continuaremos a fazer sem ceder à jurisdição temporal em causas pertencentes à doutrina e à consciência. Deixe-os cuidar de seu fardo com o qual eles encontrarão o suficiente para trabalhar, e deixe o nosso fardo para nós como Cristo ordenou.

CCCXLV.
A confissão auricular foi instituída apenas para que as pessoas pudessem dar conta de sua fé e confessar de coração o desejo sincero de receber o santo sacramento. Não forçamos nenhum homem a isso.

CCCXLVI.
Cristo deu as chaves da igreja para seu conforto e ordenou a seus servos para lidarem com isso de acordo com a sua orientação prendendo os impenitentes e absolvendo-os, para que eles possam se arrepender, reconhecer seus pecados e confessar com sinceridade e acreditar que Deus perdoa através do amor de Cristo.

CCCXLVII.
Foi perguntado se os hussitas administraram bem o sacramento a crianças pequenas sob a alegação de que a graça de Deus se aplica igualmente a todas as criaturas. O Dr. Lutero assim respondeu: eles estavam indubitavelmente errados, uma vez que as crianças pequenas não precisam da comunhão para sua salvação; mas ainda assim a inovação não poderia ser considerada um pecado dos hussitas já que São Cipriano deu-lhes o exemplo tempos antes.

CCCXLVIII.
Aquele a quem o sacramento é administrado por um herege, realmente recebe o sacramento? Sim, respondeu o Dr. Lutero: se ele não tem conhecimento de que a pessoa que administra o sacramento é um herege. Os sacramentários rejeitam o corpo de Cristo: os anabatistas batizam e, portanto, não podem batizar com eficiência; mas se uma pessoa se dirige a um sacramentário, não o conhecendo como tal, e recebe dele o sacramento acreditando ser o verdadeiro corpo de Cristo, é o verdadeiro corpo de Cristo que ele realmente recebe.

CCCXLIX.
Os anabatistas questionam sobre como a salvação do homem deve ser por meio da água. A resposta é muito simples, todas as coisas são possíveis para aquele que crê no Deus Todo-Poderoso. Se um padeiro vier a me dizer: “Este pão é um corpo e este vinho é sangue”, eu, na incredulidade, riria da cara dele. Mas quando Jesus Cristo, o Deus Todo-Poderoso, tomando em suas mãos o pão e o vinho, me diz: “Isto é o meu corpo e meu sangue”, então devemos crer porque é Deus quem fala – pois é Deus que com uma palavra que cria todas as coisas.

CCCL.
Foi perguntado se em caso de necessidade o pai de família poderia administrar a ceia do Senhor a seus filhos ou servos. O Dr. Lutero então respondeu: De modo algum! Porque ele não foi chamado para isso, e aqueles que não foram chamados não podem nem pregar quanto mais administrar o sacramento. Isso levaria a uma desordem infinita, pois muitas pessoas então dispensariam totalmente os ministros da igreja.

CCCLI.
Quando Jesus instruiu seus apóstolos para pregar, ensinar e batizar todas as nações, ele não excluiu as crianças: os apóstolos deveriam batizar todos os gentios, jovens ou velhos, grandes ou pequenos. O batismo de crianças é claramente ordenado em Marcos 10:14: “O reino de Deus é dos pequeninos.” Não devemos cortar este texto com os olhos de um bezerro, ou de uma vaca vagamente de boquiaberta em um novo portão, mas façamos com este texto da mesma maneira que fazemos com as cartas do príncipe, leia-as e pese-as repetidas vezes, com a mais sincera atenção.

CCCLII.
Os papistas dizem que foi o Papa Melquíades que batizou o imperador Constantino, mas isso é ficção. O imperador Constantino foi batizado em Nicomédia por Eusébio, bispo daquela cidade, no sexagésimo quinto ano de sua vida e no trigésimo terceiro de seu reinado.

CCCLIII.
Os anabatistas alegam que as crianças, por não possuírem razão, não devem receber o batismo. Eu respondo: Essa razão de forma alguma contribuiu para a fé. Não, visto que as crianças são destituídas de razão, elas são os destinatários mais adequados e apropriados para o batismo. Pois a razão é o maior inimigo que a fé tem: ela nunca está acompanhada com as coisas espirituais, pois na maioria das vezes luta contra a Palavra Divina tratando com desprezo tudo o que emana de Deus. Se Deus pode transmitir o Espírito Santo aos adultos, então é notório que Ele também pode transmitir para as crianças pequenas. A fé vem da Palavra de Deus quando é ouvida; as criancinhas ouvem a Palavra quando recebem o batismo, e com isso também recebem a fé.

CCCLIV.
Alguém mandou perguntar se era permitido usar água morna no batismo? O doutor respondeu: “Diga ao cabeça-dura que água, quente ou fria, é água.”

CCCLV.
Em 1541, o Dr. Menius perguntou ao Dr. Lutero sobre a maneira de como um judeu deveria ser batizado. O Dr. Lutero então respondeu: Você deve encher uma grande bacia com água e, depois de despir o judeu de suas roupas, deve cobri-lo com uma roupa branca. Em seguida ele deve se sentar na grande bacia e você deve batizá-lo bem debaixo d`água. Os antigos, quando eram batizados, vestiam-se de branco devido ao primeiro domingo depois da Páscoa que era o dia consagrado para esta cerimônia, chamava-se dominica in albis. Essa vestimenta é mais adequada devido ao fato que era, assim como agora, do costume de enterrar as pessoas com uma capa branca; e o batismo, como você sabe, é um emblema de nossa morte. Não tenho dúvidas que quando Jesus foi batizado no rio Jordão, ele estava vestido com uma veste branca. Se um judeu não convertido de coração me pedir o batismo, eu o levaria até a ponte, amarraria uma pedra em seu pescoço e o jogaria no rio; pois esses miseráveis costumam zombar da nossa religião. Por outro lado, sendo a água e a Palavra Divina a essência do batismo, um judeu ou qualquer outro não seria menos válido no batismo, pois seus próprios sentimentos e intenções não eram o resultado da fé.

 

Fonte: CRTA - Center for Reformed Theology and Apologetics - reformed.org
Tradução: Marcell de Oliveira


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