CONVERSAS À MESA (TISCHREDEN) PT. 2/47 - PREFÁCIO DO DR. JOHN AURIFABER


Categoria: Conversas à Mesa [Tischreden]
Imagem: Martinho Lutero (no centro) - eBiografia
Publicado: 01 de Janeiro de 2017, Domingo, 19h01

Para os honoráveis e veneráveis governadores, prefeitos e vereadores das cidades imperiais, Strasburg, Augsburg, Ulm, Nuremberg, Lubeck, Hamburg, Brunswick, Frankfurt-on-the-Maine, etc.

GRAÇA E PAZ DE DEUS NOSSO PAI, ATRAVÉS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.

O santo e nobre profeta David, em Salmos capítulo 78, diz: “Deus fez uma aliança com Jacó, e deu a Israel uma lei que ordenou a nossos pais que ensinassem seus filhos, para que a sua posteridade a conhecesse, e os filhos que ainda não haviam nascido; Com a intenção de que, quando surgissem, pudessem mostrar aos seus filhos o mesmo. Para que pusessem a sua confiança em Deus, e não se esquecessem das obras de Deus, mas guardassem os seus mandamentos”. Nestas palavras, os grandes benefícios de Deus são estabelecidos e louvados, onde Ele revela à humanidade sua Palavra Sagrada, seus tratados e leis que se faz conhecidos, e nos ensina sobre o pecado e sobre a justiça, sobre a morte e sobre a vida, da condenação e da salvação, do inferno e céu, e de tal modo formou uma igreja cristã para viver eternamente com Ele; e também o profeta deseja que aprendamos a Palavra de Deus com diligência, e ensinemos aos outros sobre Ela, e todos precisam conhecê-lA, e não podemos esquecer das obras maravilhosas de Deus e sermos sempre gratos a Ele.

Portanto, quando Deus deixou sofrer os filhos de Israel na servidão do Egito que assim caíram na idolatria e na falsa servidão a Deus; Sofrendo também grandes perseguições e muitas outras misérias, então Deus enviou Moisés e Arão que acenderam a luz da Palavra de Deus novamente, e os tiraram da abominável idolatria dos pagãos, e lhes abriram o conhecimento do verdadeiro Deus.

Então, Ele os conduziu com sua poderosa mão para fora da escravidão do Egito, levando-os até o Mar vermelho, e diante de seus olhos, o Faraó e todos os seus egípcios foram derrubados e afogados. Ele mostrou-lhes grande bondade no deserto; Isto é, deu-lhes os mandamentos no Monte Sinai; alimentou-os com maná (pão do céu), e com codornizes, e deu-lhes água para beber de uma rocha; E, além disso, Ele deu muitas vitórias contra os amalequitas e outros inimigos de Israel.

Então Deus lhes obrigou a lembrarem desses indescritíveis fatos, para que pudessem falar disso aos seus filhos e filhas, e deveriam ser sempre gratos por isso.

Por este motivo, todos os anos, eles observam e guardam as festas da Páscoa, do Pentecoste e dos Tabernáculos, para sempre lembrarem das bondades de Deus para com eles; Como está escrito em Êxodo XIII: “Naquele dia mostrarás a teu filho, dizendo: Isto é feito por causa daquilo que o Senhor me fez quando saí da terra do Egito. Para que a lei do Senhor esteja na tua boca, pois com a mão forte o Senhor te tirou do Egito”. Mas os filhos de Israel, depois da sua maravilhosa libertação, não deram tantas graças a Deus pelos grandes benefícios; Pois, pouco tempo depois, eles ergueram um bezerro de ouro, e dançaram para ele. Como também nas águas da peleja, murmuravam contra Deus, irritavam-no e eram punidos com o castigo divino.

Devemos também colocar diante dos nossos olhos esta admoestação do Salmo 78, e considerar cuidadosamente o exemplo dos filhos de Israel, que logo se esqueceram de sua libertação do Egito. Pois também podemos nos alegrar nos nossos dias, e restaurar para nós a Palavra de Deus gloriosamente clara e santa; para que possamos mostrar este tesouro inestimável aos filhos de nossos filhos, e como somos libertos do reino do anticristo, do papa de Roma, e das tradições dos homens, que era como o cativeiro egípcio, sim, uma prisão babilônica. Onde os nossos antepassados eram atormentados e afligidos pior do que os filhos de Israel quando ainda estavam no Egito. Porque Deus nos deu também na Alemanha um Moisés, para ser nosso capítão e líder, ou seja, o muito ilustrado e famoso homem, Martin Luther, que, pela providência especial de Deus, nos tirou da escravidão egípcia, desvendando e esclarecendo todos os principais artigos da religião cristã; Deus, com sua glória e poder, protege e defende sua doutrina, permanecendo firme contra as portas do inferno.

Pois, embora muitos eruditos, universitários, papas, cardeais, bispos, frades e sacerdotes, e em seguida, os imperadores, reis e príncipes, elevassem a sua forte batalha contra este único homem, Luther e sua doutrina, pretendendo reprimi-la, contudo, seus trabalhos foram em vão. E esta doutrina, que é a verdadeira e antiga doutrina de Cristo e de seus apóstolos, permanece firme até hoje.

E devemos olhar para trás, e considerar como e de que forma lamentável era maneira em que estávamos há cinquenta anos, com respeito à religião e ao governo da igreja, e da escravidão miserável que estávamos diante do Papado; pois isso é desconhecido para os nossos filhos; sim, nós que somos velhos, quase esquecemos.

E, primeiro, no templo de Deus assentou-se o homem do pecado, e o filho da perdição, ou seja, o anticristo romano, de quem São Paulo profetizou, 2 Ts II: “Quem se exalta a si mesmo acima de tudo o que se chama Deus”, ou o que é adorado: alterou e perverteu a Palavra de Deus, leis e estatutos; e, em seu lugar, instituíram todo tipo de serviços divinos, cerimônias e ordenanças, segundo sua própria vontade e prazer, e em múltiplos modos e significados, sim, muitas vezes o contrário do outro; de modo que, no Papado, nenhum homem poderia saber o que era certo ou incerto, o que era verdadeiro ou falso, o que foi comandado ou proibido.

Ele vendeu todas as coisas por dinheiro, ele forçou todas as pessoas sob seu jugo de tal modo que os imperadores foram obrigados a beijar seus pés, e dele receber suas coroas. Nenhum rei ou príncipe ousou opor-se a ele, nem uma vez franzir os olhos para seus comandos ou proibições.

Por isso se gabava em seus decretos e adultérios, de ser o vigário geral de Deus na terra; que era chefe da igreja, bispo supremo e senhor de todos os bispos e homens instruídos no mundo universal; que ele era herdeiro natural e um herdeiro do império, e de todos os reinos quando eles caíram vazios. Sua coroa em Roma foi nomeada regnum mundi e cada homem deve curvar-se a ele como o padre mais santo e deus na terra. E seus canonistas hipócritas sustentavam que ele não era apenas um homem, mas aquele que era ao mesmo tempo Deus e homem juntos; que não podia pecar, e que tinha toda sabedoria divina e humana no gabinete de seu coração; de cujos banquinhos ou cadeiras as Sagradas Escrituras devem ter e receber seu poder, virtude e autoridade.

Ele era o mestre da fé; e era o único a expor a Sagrada Escritura e compreendê-la; Sim, ele estava tão santificado e tão longe de reprovação, que, embora fosse levar a terça parte de todas as almas da humanidade para o abismo do inferno, ninguém ousa questioná-lo ou reprová-lo, ou exigir o porque de ele ter feito isto. Pois cada um é obrigado a crer que sua celsitude sagrada e seu poder santificado não poderiam e nem deveriam errar. Ele tinha autoridade para anular e aniquilar tanto o Novo como o Antigo Testamento. A igreja foi construída sobre ele, e ele não podia errar nem falhar, de onde surgiu necessariamente a ideia de que ele era o mais elevado e o mais eminente do que todos os apóstolos.

Ele também tinha poder e autoridade para erguer novos artigos de fé que deveriam ser iguais em valor à Sagrada Escritura, e que deveria ser seguido para alcançar a salvação.

Ele estava acima de todos os concílios e padres para não ser julgado por nenhuma jurisdição terrestre, mas todos deveriam ser sujeitos apenas e somente ao seu julgamento e decretos.

Ele fez a sua igreja romana a mãe de todas as outras igrejas, onde todo o mundo foi atraído por ela. Ele era o único governador da igreja, como sendo muito capaz e mais apto para governar do que os próprios apóstolos se eles estivessem ainda vivos.

Ele tinha poder para comandar todas as pessoas na terra, os anjos no céu e os demônios no inferno. Para concluir, a cadeira de Roma era tão santa por si mesma que se um vilão tivesse sido eleito papa, contudo, logo que estava posto sobre aquela cadeira, imediatamente ele era totalmente santo.

Esses alardes que o papa deu em si mesmo; e esses capelães ignorantes, os registradores de seus graus e decretos, e sua total extravagância, propagaram tudo isso por escrito; de tal modo que sua barriga engordava até inchar, e ele se tornou tão cheio de orgulho (através de seus atos) que, como um anti-Cristo, trouxe muita confusão. Pois é notório de como ele se irou com as doutrinas da lei, ou dez mandamentos, e como estes foram demolidos e levados por ele.

Ele derrubou totalmente os três primeiros preceitos; porque ele fez um deus do livre arbítrio do homem, na medida em que ensinou, com os seus adivinhos da escola, que a força natural do homem, após a queda, permaneceu sólida e intacta; e que um homem por sua própria força humana (se ele fez apenas aquilo que só estava em seu próprio poder de fazer) foi capaz de observar e cumprir todos os mandamentos, e, portanto, justificado diante de Deus. Ele ensinou também que não estava fundamentado nas Escrituras, que a assistência do Espírito Santo, com sua graça, era necessária para realizar boas obras. Mas que cada homem, por sua própria força natural e habilidade, tem um livre arbítrio, nos deveres divinos, para fazer o que é suficiente, o bem e o certo.

O papa bateu nos outros sete mandamentos e se exaltou acima dos pais e magistrados, e acima da obediência devida a eles, instigando os seus filhos contra os seus pais, e os súditos contra os seus governantes (como claramente aparece nas histórias imperiais); foram pesados as transgressões contra o quinto mandamento.

Ele também usurpou e desenhou para si a espada temporal, e ensinou que é justo e lícito resistir e afastar o poder com poder, e que não é uma ordem absoluta (mas apenas um conselho) de amar nossos inimigos, para sofrer por engano, etc. Tal doutrina é completamente oposta ao sexto mandamento.

Então, contrariando o sétimo preceito, ele proibiu os seus frades, sacerdotes e freiras de se casarem; e abriu caminho para eles viverem em licenciosidade, sem reprovação; sim, e além disso recebeu um rendimento anual e aluguel de tais infelizes.

Contrariando o oitavo mandamento, ele usurpou para si reinos, principados, países, povos, cidades, vilas e aldeias, e tomou posse dos lugares e moradias mais agradáveis do mundo, sugou os pobres e encheu seu bolso de tesouros de uma tal maneira que seus monges espirituais são mais ricos do que príncipes temporais.

Ele também rasgou em pedaços, e anulou todo tipo de votos solenes, promessas e tratados de paz, que foram feitos sem seu consentimento e autoridade papais, diretamente contra o nono mandamento.

Por fim, e contra o décimo mandamento, ele ensinou que os desejos malignos da humanidade não eram pecados, mas precedem apenas por fraqueza humana.

De tal maneira, e por um instinto diabólico, o papa jogou fora todos os mandamentos de Deus, e em vez disso erigiu leis humanas e preceitos.

O mesmo caminho que ele tomou para falar do evangelho, em nada pregava de Cristo, de sua pessoa, obras, preciosos méritos e benefícios; nem consolava os angustiados e as consciências dolorosas. E as pessoas eram completamente ignorantes para obter a verdadeira remissão de seus pecados, a vida eterna e salvação.

Os papistas declaravam também ao povo, em seus sermões, que o único Mediador entre Deus e o homem, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, era um juiz severo e zangado, que não se reconciliaria conosco, a não ser que tivéssemos outros defensores e intercessores além de si mesmo.

Por causa dessa doutrina, as pessoas foram seduzidas e levadas para a idolatria pagã, e se refugiaram em santos mortos para ajudá-los e libertá-los, e fizeram deles seus deuses, em quem depositam mais confiança e fé do que em nosso abençoado Salvador Jesus Cristo; e, especialmente, colocaram a Virgem Maria, em vez de seu Filho Cristo, como mediadora no trono da graça.

Daí procederam as peregrinações aos santos, onde buscaram perdão e remissão dos pecados. Eles também buscavam perdões do papa, das fraternidades dos frades e de outras ordens. E as pessoas foram ensinadas que devem comprar o céu por suas próprias boas obras, austeridades, jejuns, e assim por diante.

E que a oração é o maior conforto de um cristão, sim, seu asilo, sua proteção e escudo contra todas as adversidades; por isso o Papa, orando, fez uma obra nu, um balbucio tedioso sem espirito e verdade. Pessoas orando em latim, coleções de salmos, e livros que eles não entendiam; eles observavam em oração, Horae Canonicae, ou as sete vezes, com guirlandas de rosas, com tantos canais de orações, e outras coleções aos santos mortos; e assim produziu o terror das consciências, de modo que as pessoas não receberam nenhuma esperança ou verdadeiro conforto em tudo. No entanto, não obstante, eles foram feitos para acreditar que tais orações devem merecer perdões e remissões de pecados para o espaço de muitos milhares de anos.

O batismo, no Papado, também tinha quase perdido seu brilho, pois não estava só manchado com brinquedos humanos e adições, como água benta, luzes, óleo, etc., mas também era celebrado na língua latina, de modo que os leigos, de pé, não conseguiam entender; e em seu lugar, constituíam o monastério como um segundo batismo, de igual valor e operação, através do qual seriam tão puros quanto aqueles que receberam o batismo de Cristo, tomando nele novos nomes (como o papa em sua eleição) condenando seus primeiros nomes que receberam no batismo de Cristo.

A Ceia do Senhor, no Papado, também foi desonrada, corrompida, transformada em idolatria e maltratada; porque eles usaram o mesmo não em memória de Cristo, mas como a oferta de algum sacerdote ímpio, e um mérito próprio de algum miserável desesperado que diariamente o devorava sem fé, e mais tarde vendia para outros por dinheiro, para ser transmitido para as almas no purgatório, para assim resgatá-las; para que da Ceia do Senhor eles fizessem um mero mercado.

Além disso, o papa traiçoeiramente roubou dos leigos uma parte do sacramento, a saber, o vinho; enquanto a outra parte, que ficava, era intimamente fechada e preservada, e anualmente, no Corpus Christi, com grande solenidade, era levada e adorada, e com isso faziam a temerosa idolatria.

Com a confissão, o papa igualmente trouxe em confusão as consciências do mundo inteiro, e as almas de muitos no desespero; dando às pessoas a absolvição por causa de suas próprias boas obras e méritos; e assim, em vez de consolo e conforto, ele trouxe medo, inquietação e desânimo para as consciências de pessoas angustiadas e tristes; e, em vez de verdadeiras soluções, fez deslealdade, foi desonesto em todos os seus procedimentos perversos.

Agora, quando fez escurecer e falsificar a Palavra de Deus, a doutrina da lei e do evangelho; tinha frustrado as orações doces e confortáveis, e a verdadeira devoção a Deus; tinha desonrado o batismo, a Ceia do Senhor; então, finalmente, ele passou a andar sob o estado divino dando ordens no mundo; e do púlpito e do governo da igreja, estabeleceu uma regra temporal, onde ele se sentou como cabeça e monarca, e sob ele, em ordem, os cardeais, arcebispos, bispos, prelados, abades, frades, freiras, sacerdotes e inumeráveis outras ordens; Os pobres leigos foram completamente feitos como uma ferramenta desprezada.

Por essa curta narrativa, um homem pode facilmente recolher em que estado e condição da igreja cristã estava no Papado. Tanta escuridão terrível Deus suportou para ir sobre o mundo ímpio e ingrato como um julgamento justo.

Mas Deus, que é abundante em graça e em misericórdia, fez com que a luz do evangelho ressurgisse em nosso tempo e dispersasse as sombrias nuvens das tradições humanas, ao despertar o mais famoso homem de Deus, Luther, que, com sua pregação e doutrina, entrou em batalha contra o Papado, e, por meio da Palavra de Deus, lançou-o ao chão e, assim, nos livrou do cativeiro do Papado, nos conduzindo novamente à terra prometida e nos colocou num paraíso onde a Palavra de Deus torna-se clara e, Deus seja louvado, a igreja limpa das teias de aranha das tradições dos homens, purificada e gloriosamente reformada, pela qual nunca damos graças suficientes a Deus Todo-Poderoso.

Deus, através de Luther, trouxe a Bíblia, ou a Sagrada Escritura, que antigamente estava, por assim dizer, debaixo da mesa; traduzido por Luther do original, do hebraico para a língua alemã, pode ser facilmente lido e compreendido por jovens e velhos, ricos e pobres, clérigos e leigos, um pai e um senhor agora podem ler diariamente as Sagradas Escrituras às suas mulheres, aos seus filhos e servos, e os instruam nas doutrinas da graça, e os dirijam na verdade e no verdadeiro serviço de Deus. Pois antes disso, no Papado, a Bíblia não era conhecida por ninguém; os doutores da divindade também não liam; Luther afirmou muitas vezes em minha audição, que o Dr. Andrew Carlstadt era um médico em divindade oito anos antes de começar a ler a Bíblia; que se nós, alemães, não estivéssemos cegos como as toupeiras, devemos reconhecer estas graças indescritíveis e benefícios de Deus; com joelhos dobrados diariamente rendem agradecimentos calorosos, consequentemente, a Deus; Com o Salmo 34, diz: “Sempre vou louvar ao Senhor, o seu louvor estará sempre na minha boca; a minha alma sempre se fartará no Senhor”. E, com o Salmo 103: “Louvai ao Senhor, ó minha alma, e todo o que está dentro de mim, louvai o seu santo nome. Louvai ao Senhor, ó minha alma, e não vos esqueçais do bem que ele fez por vós”.

Devemos orar de coração a Deus, para que não extinga esta luz do Evangelho, mas suporta por muito tempo o seu brilhar, para que os filhos e a posteridade de nossos filhos caminhem também nesta luz salvadora, e se regozijem e que sejam eternamente salvos.

O diabo é um grande inimigo deste tesouro que é a Palavra de Deus e de seus santos sacramentos. Ele ataca ferozmente para apagar esta luz, como claramente apareceu após a morte deste santo homem de Deus, Luther. Em primeiro lugar, houve uma forte tentativa de derrubar a doutrina da justificação pela fé, das boas obras e do tipo de vida cristã, dos sacramentos e das cerimônias bem ordenadas em nossa igreja cristã.

Em seguida, surgiram os conciliadores, ou os qualificadores, que procuravam mediar entre nós e o papa, e realizar uma organização. Ensinavam que quanto mais próximo se mantivesse ao papa, melhor; e, portanto, propuseram restaurar a jurisdição da igreja aos bispos papistas, e levantar as cerimônias caídas; e quem se recusou a segui-los, caiu em grande perigo.

Os Antinomianos, Swenckfelders, Enthusians, co-agentes, foram também muito diligentes para tirar o brilho novamente das verdadeiras doutrinas que Luther tinha esclarecido, e trouxe de novo à luz.

Todos os que professavam ser cristãos, professores e pregadores honestos, deveriam ter resistido a esses erros falsos e maus. Mas muitos deles eram cães mudos, que não latiam, nem se colocavam contra os lobos vorazes para expulsá-los da redenção de Cristo, para alimentar a pobre folha e dar-lhes um pasto doce e saudável. Nem eles estavam muito cuidadosos com as misérias de José, como diz o profeta.

Mas haviam outros que, como professores verdadeiros, lutaram contra os inimigos de Deus, e foram injuriados e mantidos como rebeldes, tumultuosos e teimosos que levantariam contendas e divisões desnecessárias, e foram perseguidos e atormentados.

Da mesma forma, as escolas e universidades começaram a cair novamente, e a pura doutrina da Palavra de Deus passou a não ser mais considerada por eles, a divindade da escola passou a ser prendida novamente, e muitas teorias novas e outras artes eloqüentes passaram a entrar na igreja com falsidades e erros.

Em seguida, os políticos, os advogados e os cortesãos tentaram governar a igreja e os púlpitos, colocar e expulsar ministros e guardas de igrejas, e julgar as causas da religião de acordo com suas próprias fantasias, como nos assuntos temporais; de modo que vemos a falsificação da doutrina, a devastação das ordens bem disciplinadas da igreja na Alemanha e o cativeiro e a tirania do papa de novo à porta – um resultado que Luther, em sua vida, muitas vezes predisse.

Aproveitemos, pois, a luz de Lutero e exerçamo-nos seriamente na doutrina da Palavra de Deus, como Cristo ordenou: “Andai na luz, enquanto tende luz, para que sejais filhos da luz”. O Santo Salmista orou: “Que a Palavra divina seja uma lâmpada para seus pés e uma luz para os seus caminhos”, para que assim ele possa dirigir os seus caminhos e ser preservado das trevas e tropeços. E São Pedro ainda nos cobra: “Que tomemos boa atenção à palavra de Deus, como uma luz que brilha em trevas”.

Deus Todo-Poderoso, Pai de nosso amoroso Senhor e Salvador Jesus Cristo, conceda seu Espírito Santo, que reis e príncipes cristãos, de grandes e pequenas cidades, possam reconhecer esses indizíveis benefícios da revelação do evangelho e da libertação da escravidão egípcia, o reino do anticristo; e sejamos fervorosamente gratos a Deus, e que possamos viver em santidade, e não nos afastarmos da Palavra de Deus por meio de ações pecaminosas e perversas; e despojemo-nos a nós mesmos e à nossa posteridade da liberdade gloriosa do evangelho, sem nos mergulharmos na angústia e no miserável cativeiro da tirania papista, sob a qual nossos antepassados e predecessores sofreram; mas que este tesouro da Palavra de Deus possa permanecer na Alemanha, e que esta obra iniciada possa ser enviada adiante e preceder à glória, honra e louvor a Deus, e à preservação e a salvação da igreja cristã em todo o mundo. Deus, por sua misericórdia, nos concedeu essa grande obra pela causa de Jesus Cristo. Amém. John Aurifaber, D.D. Anno 1569.

 

Fonte: CRTA - Center for Reformed Theology and Apologetics - reformed.org
Tradução: Marcell de Oliveira

 


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