AUXÍLIOS E OBSTÁCULOS À REFORMA INGLESA (1529-1547) NA PERSPECTIVA DE A. KNIGHT E W. ANGLIN


Categoria: Historiografia
Imagem: Rei Henrique VIII com Ana Bolena por Daniel Maclise - ArtsDot
Publicado: Originalmente publicado em Agosto/2008 e republicado no dia 12 de Agosto de 2021, Quinta Feira, 22h41

Tomas Cranmer
No ano de 1529 começou Tomás Cranmer a gozar o favor real, e por fim foi promovido à Sé de Canterbury. Cranmer era homem de sabedoria e piedade, mas tímido e indeciso – sendo isto reconhecido até pelos contemporâneos mais amigos. Embora superior a Latimer em erudição, era-lhe muito inferior em lealdade a Cristo, e levou bastante tempo a tomar a resolução de se desembaraçar das malhas do papismo. O progresso da Reforma podia ter-se desenvolvido muito em consequência da promoção de Cranmer, mas não aconteceu assim. As facilidades que Cranmer mostrou em ajudar a obra parece que não foram nada proporcionais à sua elevada posição; e Estevão Gardiner, bispo de Winchester, o grande perseguidor, tinha mais influência junto ao rei em todos os assuntos referentes aos interesses da igreja do que o novo primaz. Mas era evidente que Cranmer simpatizava com muitas das doutrinas dos reformadores; e vemos que usou da sua autoridade para dar liberdade a Latimer, a quem colocou de novo no seu presbitério. Isto pelo menos foi uma ação conveniente.

Mais Martírios
Contudo, a tortura aos hereges continuou como dantes; e dois meses depois da promoção de Cranmer, João Frith, um íntimo amigo de Tyndale, sofreu o martírio juntamente com um aprendiz de alfaiate, chamado Hewett, que tinha negado a presença corporal no sacramento. Não se deve, porém supor que Cranmer tomasse qualquer parte nestes atos brutais; eram inteiramente devidos ao selvagem beatismo do bispo de Winchester, por quem o arcebispo tinha uma dedicada antipatia.

Houve ainda muitas outras vítimas do zelo de Gardiner, mas não nos podemos referir a elas individualmente: estão registradas no Céu, e Deus não se há de esquecer de nenhuma delas.

Mas, entre todas, a que merece mais especial menção é a mártir Ana Kime mais conhecida por Ana Askew. Era esposa de um tal Kime, um papista fanático. Só algum tempo depois de casada, foi que o Senhor lhe abriu os olhos e lhe mostrou pela luz da sua Palavra os erros papistas; mas logo que recebeu a luz manifestou bem o favor que lhe tinha sido concedido pela firmeza e coragem com que prosseguiu nas suas convicções.

A primeira perseguição que teve de sofrer veio do seu próprio marido, cujo ódio pelo Evangelho venceu por fim de tal maneira toda a afeição natural que a expulsou de sua casa. Ligou-se então à corte da rainha Catarina Parr, que era uma cristã sincera; e ali a sua beleza, a sua piedade, e a sua ilustração, atraíam a atenção de todos, despertando mais tarde o ódio de Gardiner e do seu partido. Vigiavam todos os seus movimentos, mas nada encontravam em que pudessem basear uma acusação. A sua maneira de viver era irrepreensível.

No ano de 1545 foi acusada de heresia, e lançada na prisão. O seu primeiro interrogatório perante os inquisidores teve lugar no mês de março do mesmo ano, no fim do qual foi mandada para a sua cela em Newgate, onde ficou durante perto de um ano. O seu segundo interrogatório foi perante o conselho do rei em Greenwich, onde ela foi escarnecida e insultada pelo bispo de Winchester e seus adeptos, sendo novamente conduzida para Newgate.

Um dia ou dois mais tarde foi removida para a Torre onde o Lord Chanceler esforçou-se por induzi-la a indicar outros da corte que eram suspeitos de partilhar com as suas opiniões; e não querendo ela fazê-lo, aquele miserável monstro ordenou que a colocassem no cavalete da tortura. “E para conservar-me sossegada“, diz a pobre vítima paciente, “e não gritar, o Lord Chanceler e o Mestre Rich torturaram-me com as suas próprias mãos até eu estar quase morta… Mas dou graças ao meu Senhor Deus pela sua eterna misericórdia. Ele deu-me forças para persistir na minha fé, e espero que hei de resistir até o fim“. Depois disso foi levada para uma casa e deitada numa cama com os ossos moídos e doridos como jamais os teve o patriarca Jó; e enquanto ali jazia, o Chanceler mandou dizer-lhe que se quisesse abandonar as suas opiniões seria bem tratada, em caso contrário seria reenviada para Newgate e queimada. Mas ela respondeu que preferia morrer do que negar a sua fé; e esta resposta foi que decidiu a sua sorte.

Nesse mesmo ano, não se sabendo a data certa, foi completada a tragédia de Ana Askew, que foi levada da prisão para ser queimada. Estando muito fraca e não podendo andar, foi levada para Smithfield numa cadeira, e quando a levaram para o poste nem podia ter-se de pé. Amarraram-na portanto pelo meio do corpo com uma corrente. Então ofereceram-lhe o perdão do rei se retratasse; porém ela respondeu que não tinha vindo ali para negar o seu Senhor e Mestre. Chegaram então o fogo à lenha, e em breve os seus sofrimentos acabaram, e o seu espírito subiu ao Céu. Mais três vítimas sofreram ao mesmo tempo.

Desgraçados tempos! Bem se podia erguer o grito de “Por quanto tempo Senhor Deus, por quanto tempo?!


Ana Askew sendo interrogada / Fonte: preguntasantoral.es

 

Fonte: A História do Cristianismo - Dos Apóstolos do Senhor Jesus Cristo ao Século XX, A. Knight & W. Anglin, Ed. CPAD


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