UMA VISÃO HISTÓRICO-TEOLÓGICA DE JAN AMOS KOMENSKI: PAI DA DIDÁTICA MODERNA, SEGUNDO A ÉTICA PROTESTANTE DA INSTRUÇÃO, VIRTUDE E PIEDADE


Categoria: Sociologia
Imagem: Jan Amos Komenski - Czech Center Museum Houston
Publicado: 12 de Fevereiro de 2019, Terça Feira, 23h39

Artigo científico realizado pela professora Sueli Biasetti que é especialista em Docência do Ensino Superior pela Universidade Gama Filho e, também, especialista em História da África: educação, cultura e relações internacionais pelo Centro Universitário Assunção. O artigo em questão fala sobre as teorias de Comenius (ou Komensky), um bispo protestante da Igreja Morávia do século XVII, considerado o pai da Didática Moderna.

RESUMO
A educação, como o processo da transmissão de conhecimento através dos séculos, quando transformada em Pedagogia, chegou a um ponto crítico em nosso país como em muitas partes do mundo.

Podemos lembrar, na História da Educação, um período que se propôs a mudar uma situação crítica como a nossa: foi o século XVII, que ofereceu ao mundo, por meio do Teólogo e Educador Jan Amos Komenský, uma solução radical de transformação no ensino universal através de três conceitos: o saber, a virtude e a piedade. Considerado até hoje como o “Pai da Didática Moderna”, e pouco conhecido nos meios acadêmicos, Comenius, numa transliteração mais simplificada, foi bispo moraviano, e influenciado pela Reforma Protestante, criou um sistema educacional pansófico – universal – que trazia em sua base as noções da sabedoria divina, para que todos pudessem viver como bons cidadãos dentro de padrões éticos e morais. A partir dessa hipótese foi realizada esta pesquisa, que discutirá as contribuições históricas e educacionais de Comenius para a educação de todos os tempos.

INTRODUÇÃO
O artigo fará uma exposição dos ideais educacionais de Jan Amos Komenský, teólogo, filósofo e educador, que viveu no século XVII, e que se tornou conhecido como o “Pai da Didática Moderna”, através de sua grande obra “Didática Magna”. Analisando a educação institucional atual, e percebendo as grandes dificuldades no processo ensino-aprendizagem, a Pedagogia busca incessantemente uma reestruturação, baseada nas várias teorias em gestação, e procura uma solução que valorize o indivíduo como ser humano, para integralizá-lo e prepará-lo para viver nesta sociedade tão controversa, de forma íntegra e independente, moral e intelectualmente.

Através de uma releitura da grande obra do reformador educacional checo Comênius, em sua descrição imaginativa de uma sociedade ideal, por meio do ensino de “tudo para todos”, propõe-se, como crítica ao sistema educacional atual, uma pesquisa profunda destes ensinamentos, procurando com ela obtermos uma iluminação para as nossas necessidades pedagógicas tão conflitantes.

Verdadeiramente comprometido com uma educação universal, pautada em princípios que conduzem o homem à transformação moral e espiritual, além da produção do verdadeiro conhecimento, Comênius elaborou e publicou obras que defendem os direitos humanos e falam de igualdade e fraternidade, e que influenciaram vários educadores que, anteriores a ele, lutaram pelo bem estar qualitativo da sociedade.

Sendo assim, destaca-se a importância deste tema porque valoriza a criança desde seus primeiros anos de vida, abarcando todo o seu desenvolvimento, a partir de uma formação, não somente científica, mas antes de tudo teológica, que a conduzirá para uma educação plenamente ética, com princípios e preceitos socialmente estabelecidos e reconhecidos como norteadores das relações e da boa conduta dos homens entre si.

Portanto, o principal objetivo dessa pesquisa é resgatar e destacar princípios educacionais que aparecem até hoje na Pedagogia, mas têm sido pouco valorizados nas áreas de ensino, e que devem ser revistos, discutidos, e através de uma reflexão bastante cuidadosa, realizados na prática em todos os locais onde existam educadores autênticos e verdadeiros.

O artigo pretende inserir o leitor à explanação da origem genética, cultural, religiosa e acadêmica de Comenius, seguida de seus ideais educativos, com sua estrutura e método e exporá de forma sucinta a essência da grande obra “Didática Magna”, em que está alicerçado todo o ideal pansófico de educação, em seu conceito teológico-pedagógico, que prende o leitor do começo ao fim, por ser uma obra extraordinariamente atual e completamente verdadeira.

Realizou-se pesquisa bibliográfica de várias obras sobre o assunto em pauta. A pesquisa eletrônica buscou teses e dissertações de mestrado e doutorado de várias universidades, e também foram usadas revistas que continham artigos sobre o assunto em questão.

COMÊNIUS: ORIGEM GENÉTICA, CULTURAL, RELIGIOSA E ACADÊMICA
Jan Amos Komenský, ou João Amós Comênius como é mais conhecido, viveu num dos períodos mais agitados da Europa, quando da transição do Feudalismo para a Modernidade e em meio a guerras religiosas constantes. Nasceu em 28 de março de 1592, na cidade de Uherský Brod ou Nivnitz, na Moravia, região da Europa Central, pertencente ao reino da Boêmia, antiga Tcheco-Eslováquia. Filho do moleiro Martinho, oriundo de Komma, da região eslava e Ana, também daquela região, que na época era o centro de uma tensão político-social-religiosa. Nesta localidade surgiu um movimento de protesto contra a tradição da Igreja Oficial, liderado por João Huss, que passou a ser chamado de movimento hussita. Huss era sacerdote, professor e reitor da Universidade de Praga e foi levado a fogueira como herege em 1415. Seus seguidores organizaram-se em 1457, e passaram a ser conhecidos como Irmãos Unidos, ou Morávios. [1]

A seita dos morávios, da qual faziam parte os pais de Comênius, mantinha uma disciplina rígida, pautada inteiramente nas Escrituras Sagradas, pelas quais os Irmãos tinham um apego muito grande.

Como lema de vida praticavam a humildade a piedade a oração e a leitura diária da Bíblia. Esse grupo adotava como língua literária o checo em vez do latim, e foi a primeira denominação cristã a imprimir um hinário na língua vernácula do povo, em 1501.[2]

A comunidade buscava sua unidade, e investia numa educação que atingisse todas as crianças, meninos e meninas, e todos os adultos, homens e mulheres. Acentuou o estudo das Sagradas Escrituras e fizeram delas a medida da organização social e religiosa. [3]

Comênius foi filho dessa tradição protestante da Boêmia que contestou os abusos da Igreja e do Estado que mantinham a população dominada pelo medo e pela mentira. A educação familiar que Comênius recebeu o influenciou profundamente e o ajudou a ser um místico, e segundo Walker, 2002, ele tinha a convicção de que era necessário buscar o reino de Deus, pois a vida terrena era apenas a passagem para a eternidade.

Aos doze anos, Comênius ficou órfão de pai e mãe e suas duas irmãs também vieram a falecer. Foi viver em Nivnice com pessoas rudes e desatenciosas em sua educação, e por isso dedicou atenção especial à infância, quando organizou um sistema educacional infantil diferenciado, visando a reforma de toda a humanidade. Estudou em uma escola Moravia onde aprendeu leitura, escrita, cálculo e catecismo. Em sua juventude estudou em uma escola onde reinava a rígida seriedade, desprovida de qualquer atrativo e que exigia dos alunos uma postura de adultos. O ensino era composto de memorização intensa, eloqüência excessiva e o castigo da palmatória que diz que “a letra com a pancada entra”. Isso o fez pensar sobre uma melhor forma de ensinar e aprender, e chegou à conclusão que em todas as escolas da época existia um defeito: a falta de método. [4]

No término dos seus estudos secundários, Comênius optou pela Teologia, onde estudou na Faculdade Calvinista de Herborn, em 1611 na Alemanha. Destacou-se entre os alunos e apresentou duas teses de doutorado, muito elogiadas por seus mestres: Problemata Miscelania e Syloge Quaestiorum Controversum.

Comênius fundamentou suas convicções religiosas e as ampliou. Adquiriu uma vasta cultura e desenvolveu o espírito de reformador que o acompanhou durante a sua trajetória de vida (Gasparim, 1994).

Nesta época, Comênius escreveu um dicionário de expressões elegantes, O Tesouro da Língua Boêmia. Transferiu-se para Heidel-berg com o intuito de se aperfeiçoar em astronomia e matemática e após esta caminhada, voltou para a Boêmia. Contagiado pelas idéias pedagógicas aprendidas na Universidade, estabeleceu-se em Prerov onde se encontrava o maior centro da comunidade morávia.

Atuando como professor, destacou-se com brilhantismo em consequência da reforma educacional que implantou aplicando métodos mais eficientes no ensino da Ciência e das Artes. Após dois anos trabalhando como professor foi ordenado pastor morávio em 1616, estabelecendo-se em Fulnek; casou-se com Madalena Vizovska com quem teve seus dois primeiros filhos. Com apenas vinte quatro anos já desempenhava as funções de professor e pastor recebendo uma nomeação de diretor das escolas da Unidade.

Em 1621, os exércitos espanhóis invadiram a cidade de Fulnek desencadeando a Guerra dos Trinta anos. Para Comênius e sua família isso gerou um grande martírio, pois perdeu todos os seus livros e manuscritos. Também a população da Tcheco-Eslováquia foi dizimada em mais de oitenta por cento. Como se não bastasse tudo isso, a esposa e os filhos de Comênius morreram vítimas da epidemia da peste. Ele recomeçou do zero, produzindo escritos religiosos para a irmandade que estava desanimada com a guerra.

Iniciou-se uma perseguição contra os morávios que fugiram para a Polônia e estabeleceram-se em Leszno. Comênius casou-se com Dorotéia Cirilo, filha de um bispo muito conhecido da Unidade. Retomando suas funções, começou a ficar conhecido na Inglaterra, até que foi chamado por um grupo de intelectuais, liderados por Samuel Hartlib, para reinstalar o humanismo cristão tradicional no espírito dos homens, e que pudesse proporcionar paz para a humanidade.

Comênius foi para Londres e sua fama já crescia quando foi convidado a assumir a Reitoria da Universidade de Harvard, mas não aceitou. Viajou para outros países, inclusive a Suécia, mas acabou voltando para Leszno onde se fixou.

Na Suécia, encontrou-se com René Descartes, no Castelo de Endegeest, nas cercanias de Leide. O encontro foi rápido, e acredita-se que Descartes simpatizou com Comênius, pois havia entre eles muitos pontos em comum, como por exemplo, a decepção dos dois eruditos com as humanidades ensinadas nas escolas daquele tempo. Tanto Comênius como Descartes foram intelectuais do método e ambos defendiam o método como condição para a aquisição do saber. Descartes, também sonhava com uma ciência universal que todos pudessem ter acesso. Apesar de terem muitos pontos em comum, havia um, do qual divergiam: para Comênius a ciência deveria ser ensinada como um meio de aproximação com Deus, enquanto que para Descartes, ao contrário, a ciência deveria ser usada com fins exclusivamente humanos, sem envolvimento religioso.

Comênius tinha na Bíblia os fundamentos de seu sistema filosófico, e a usava como fonte de sabedoria. Para Descartes, a ciência deveria estar pautada na razão, já que a Bíblia era tida como fonte de salvação e não de conhecimento científico. Esses dois campos deveriam permanecer separados, pois verdades reveladas nada têm que ver com verdades científicas, ao contrário de Comênius, que pregava a união da ciência e da religião.

Descartes tinha a postura de um racionalista puro e não aceitava nada como verdadeiro que não houvesse evidência científica. Comênius, ao contrário de Descartes, tinha uma postura de um intuitivo, e era crédulo demais na concepção do filósofo francês.

Nesse tempo, novamente uma tragédia abalou Fulnek. Um incêndio destruiu a cidade e a casa de Comênius, junto com sua vasta biblioteca, que pela segunda vez foi totalmente destruída.

Em 1648, em Leszno, Dorotéia morreu, deixando cinco filhos.

Pobre, doente e vítima da incompreensão da comunidade moravia, Comênius foi para a Holanda, e lá se casou pela terceira vez, em 1649, com Johana Gasusová. Em Amsterdã, reuniu forças e cresceu de novo como educador e reformador social.

Segundo a citação de Covello, 1991, as autoridades holandesas propuseram a publicação de todas as suas obras pedagógicas, que iriam levá-lo ao reconhecimento do público e das autoridades.

Comênius, a partir daí, levou uma vida confortável e dedicou-se a ser um proclamador da paz, lutando pela união entre os povos e as igrejas.

Em 1670, com setenta e oito anos, Comênius adoeceu gravemente, mas antes de morrer escreveu um resumo de seus princípios pedagógicos. Faleceu em 15 de novembro de 1670, cercado por familiares e amigos, e foi sepultado numa pequena igreja em Naarden, onde foi construído seu mausoléu.[5]

A conferência Internacional da Unesco, realizada em 1956, na cidade de Nova Delhi, deliberou a publicação das obras de Comênius e o apontou como um dos primeiros propagadores das idéias que inspiraram a Unesco quando de sua fundação.[6]

Nos dias de hoje, Comênius passaria por um moralista, pois sempre colocou a figura de Deus no centro de seus ideais, mas depois de quatrocentos anos de sua morte, seus ensinamentos não perderam o brilho e se mostram atuais; por isso, vale a pena conhecê-los, e quem sabe, a partir de um aperfeiçoamento, adaptá-los à nossa tão famigerada educação.

Comênius nunca reverenciou a literatura clássica, pois a tinha como pagã, e também não se apaixonou pelo encanto da eloquência. Pelo contrário, negou o Humanismo em sua forma mais latente, por ser este o valor moral da literatura pagã. Ele se importava com a educação integral do homem, desde a infância, e como uma pessoa temente a Deus e a sua Palavra procurava tirar disso princípios morais para a educação.

O século XVII traçou uma época difícil de guerra civil na Inglaterra e em outros países europeus, e tais fatos geraram desestímulos ao estudo por parte dos filhos dos nobres. Por isso Walker (2002) fala de Comênius como sendo aquele que tentava compreender o que estava acontecendo, e diz:

Para compreender o século XVII e todas as suas potencialidades e contradições é útil e oportuno partir de Comênius e do seu modelo de educação universal que veio mediar reciprocamente ciência, história e utopia sobre um pensamento fortemente original e, ao mesmo tempo, rico de passado e carregado de futuro.

GAMBI, Franci – 1999:280 [7]

Muito antes de Lutero realizar a Reforma na Igreja da Alemanha e surgir com a idéia de educação, para que todos tivessem acesso às Escrituras Sagradas, Comênius, com seu espírito moraviano, surgiu em defesa de uma mudança educacional urgente para toda a humanidade.

Pelo fato de ter estudado em uma escola rígida, com regras e castigos violentos para o ensino infantil, Comênius foi capaz de perceber os inúmeros defeitos no método de ensino de seu tempo.

Em Herborn, Comênius conheceu João Henrique Alsted, teólogo calvinista, profundamente interessado em uma reforma educacional, que passou para Comênius conhecimentos dos avançados sistemas de educação em funcionamento nas províncias da Holanda. Comênius atraído por esses conhecimentos passou um tempo estudando em Amsterdã, que era o centro cultural mais esclarecido e progressista da Europa. Quando voltou para a Moravia, passou a se corresponder com vários eruditos de sua época e acabou chamando a atenção dos povos da Europa Setentrional, em sua forma de ver a educação como o supremo meio do progresso humano.

Quando foi expulso da Moravia, estabeleceu-se em Lissa, na Polônia e se tornou reitor do ginásio. Escreveu a Didática Magna e Porta Aberta para as Línguas, uma introdução às línguas latinas. Após esses escritos seguiu-se O Vestíbulo.

Mais tarde, na Suécia, Comênius dirigiu a reforma da instrução nas escolas. Em Estocolmo escreveu livros de texto, gramáticas e léxicos para as escolas latinas.[8]

A EDUCAÇÃO PANSÓFICA
Comênius tinha um projeto educacional que durante toda a sua vida foi arquitetando e chamou de Pansofhia, ou seja, “Sabedoria Universal”.

Este projeto era classificado em três aspectos:
• Publicação de uma enciclopédia do saber universal, na qual todos os cientistas europeus pudessem contribuir. Uma exposição exaustiva de toda a ciência certamente ajudaria o progresso desta obra.
• Promoção de descobertas científicas através de um colégio com laboratórios para pesquisas científicas.
• Realização de um novo método de instrução que seria aproveitado até o limite da capacidade de cada indivíduo, e que trouxesse benefícios do conhecimento em todos os
campos do saber.[9]

Na verdade, o plano que Comênius queria colocar em prática, era o da arte de “ensinar tudo a todos”, o que para a época era viável, pois não havia a expansão de conhecimentos que temos hoje.

O seu ideal era ensinar a criança de maneira que sua chegada na fase adulta atingisse na plenitude de suas capacidades todo o conhecimento e sociabilidade.

Comênius acreditava na humanidade que, por meio do saber, virtude e piedade, pudesse chegar a um estado de perfeição inicial, quando da criação de Deus, que fez o homem à sua imagem e semelhança, mas que por causa do pecado corrompeu-se. A sua fé no poder da educação para salvar a humanidade, fez de Comênius uma figura singular em toda a História da Educação. Para ele não havia diferença entre os homens, e a educação democrática “para todos” era seu maior objetivo, e por isso lutou toda a sua vida, numa época em que o absolutismo político estava se firmando, Comênius declara enfaticamente:

A educação que eu proponho inclui tudo que é conveniente para um homem, e é tal que todos os homens nascidos neste mundo deveriam dele participar. Todos, portanto, tanto quanto possível, deveriam ser educados juntos, de modo que se possam estimular e incitar mutuamente.

[10]

Na concepção de Comênius, a criança não nasce humana, mas tem todas as capacidades para se tornar humana, a partir da educação adequada, que vai de encontro aos desígnios de Deus, e desejava reformar a sociedade sobre uma base cristã, sólida e consistente. Este ponto de vista de Comênius mostrava que era um homem à frente de seu tempo, pois na sua época somente a classe rica e nobre tinha o acesso à educação, e o princípio de igualdade de todos os homens surgiria depois de um século e meio.[11]

Disse ainda: “Desejamos que todos os homens sejam formados em todas as virtudes, especialmente na modéstia, sociabilidade e polidez, e é, portanto indesejável criar destruições de classes em tão tenra idade, ou dar a algumas crianças a oportunidade de considerar sua própria sorte com satisfação e a de outras com desprezo ” .[12]

Comênius chamava essa organização de “República cristã”, e sua ampla universalidade do pensamento educacional provinha, grande parte, de suas raízes morávias, onde o espírito de democracia fazia com que seus adeptos irmãos deixassem para trás seus títulos de nobreza e aplicassem em suas vidas os princípios do Cristianismo do Novo Testamento, onde todos são irmãos, sem diferenças de qualquer espécie. Nesta época, estes pensamentos de justiça social confrontavam totalmente a aristocracia que fechava as portas ao povo.

A ESTRUTURA DA EDUCAÇÃO PANSÓFICA
O objetivo de Comênius era que os homens deveriam aprender para a vida, de forma a tornarem-se capazes diante dos seus deveres sociais:

Eles aprenderão, não para a escola, mas para a vida, de forma que os jovens tornem-se enérgicos, prontos para tudo, diligentes e merecedores da atribuição de qualquer um dos deveres da vida, e ainda mais, se tiverem acrescentado à virtude uma conversação suave, e tudo tiverem coroado com o temor e o amor de Deus. Tornar-se-ão capazes de expressão e eloqüência.

[13]

Segundo Comênius, o homem tem capacidade de conhecer (saber), de fazer (virtude) e de relacionar-se com Deus (piedade).

A piedade é o propósito supremo da educação. A virtude e a piedade devem originar-se no ensino total a todos os homens, pois a caridade deve levar todos os homens àquilo que Deus lançou ao mundo em matéria de “saber”. Só a educação poderia regenerar a humanidade sucumbida e levantá-la de forma edificante.

O objetivo educacional poderia ser atingido tendo como principais ferramentas três coisas: bons livros de textos, bons professores e bons métodos.

A escola deveria ser um lugar de trabalhos em equipe e convivência tranqüila. Ofereceria as crianças oportunidades de movimento, espontaneidade, relações sociais, rivalidade, boa ordem e exercícios agradáveis de aprendizagem, num processo de transformação de crianças em seres humanos, começando desde o nascimento em sua casa e continuando dentro da escola.[14]

Comênius queria mostrar que só um professor poderia ensinar várias crianças ao mesmo tempo, o que não acontecia na época, pois as crianças eram ensinadas separadamente e isso travava a educação.

Os livros de textos deveriam ser padronizados e cada aluno deveria ter o seu próprio livro. Também, cada classe deveria ter um texto contendo todo o conteúdo de cada aula.

Em sua organização do sistema escolar, Comênius dividiu-a em quatro níveis:

  1. Escola materna – 0 a 6 anos: o lar é a primeira escola. Nesta fase as crianças devem aprender os fatos fundamentais de todas as ciências baseados nas observações feitas pela própria criança. As funções específicas da escola materna são o exercício das percepções, a sociabilidade e a instrução religiosa. As atividades deveriam abranger os interesses normais dos alunos neste período da idade deles. Comênius era a favor das fábulas, contos de fadas, jogos, habilidades manuais, música e humor.
  2. Escola vernácula – 7 a 12 anos: todas as crianças deveriam ser ensinadas juntas, independente de raça, sexo e posição social. A educação deveria ser elementar completa, necessária para a vida, e na língua vernácula, antes do ensino do latim. Nessa fase as crianças deveriam treinar as percepções internas (sentidos), a imaginação e a memória, combinados com o desenvolvimento do conhecimento cognitivo. As aulas deveriam incluir Leitura, Escrita, Aritmética prática, Canto, Religião, Moral, Economia e Política, História geral, Cosmografia e as Artes mecânicas, ou seja, o treinamento seria feito em todas as artes da humanidade, segundo seu entendimento dentro desta faixa etária.
  3. Escola Latina – 13 a 18 anos: seria a instituição para o desenvolvimento da adolescência e todos os meninos que queriam alcançar graus mais elevados do saber deveriam receber essa formação, independente do nível social. A escola latina treinaria o aluno para compreender a fazer julgamento das informações adquiridas pelos sentidos no período anterior. Para isso seriam ensinadas as seguintes disciplinas: Lógica, Gramática, retórica, Ciências e Artes, para que as mais elevadas faculdades do espírito fossem exercitadas. Quatro línguas deveriam ser aprendidas: o vernáculo, o latim, o grego e o hebraico. Nesses seis anos de escola latina as matérias seriam divididas: Gramática, Filosofia natural, Matemática, Ética, Dialética e Retórica.
  4. Universidades e viagens – a partir dos 19 anos: este seria o mais alto nível de educação. Somente os estudantes mais aplicados e com um alto caráter moral deveriam frequentá-la. Seria feita uma seleção por meio de um exame público para avaliar os alunos. Comênius escreveu: “Às universidades pertencem àquelas disciplinas que têm relação especial com a vontade”. Em acréscimo ao preparo de candidatos para o Ministério eclesiástico, medicina e Direito, a universidade prepararia professores e líderes para o Estado. A pesquisa deveria ser, também, uma função da universidade, e as viagens, que forneceriam informação direta a respeito da natureza humana e instituições. Essas experiências deveriam suceder a carreira universitária após terem os alunos após terem os alunos os hábitos morais plenamente formados. [15]

Comênius também baseou seus métodos em uma teoria da vida mental e do desenvolvimento infantil. Observou cuidadosamente o desenvolvimento das plantas e animais, a execução de artes manuais e artesanato e os interesses espontâneos das crianças. Compreendia que a verdadeira base da ciência educacional deveria ser o crescimento natural da criança, e seguindo este caminho, deveria se basear o método de ensino neste princípio de sucessão natural.

Apesar da falta de conhecimento de Comênius na vida mental, ele teve concepções muito mais reais que as de qualquer outro pensador de seu tempo, e que concordam com pontos de vista atuais.16

OS CINCO SENTIDOS NA EDUCAÇÃO PANSÓFICA
Comênius não tinha dúvidas de que os cinco sentidos do ser humano são “os portões de entrada para a alma humana”. Aceitou a idéia corrente de que tudo que se encontra no intelecto passou primeiramente pelos sentidos, e com isso, disse que o conhecimento vem através das percepções sensoriais. Quanto à imaginação, faz parte do sentido interno, evolui da sensibilidade e vai ser a chave para o conhecimento espiritual da criança.

Acreditava que tudo deveria ser amplamente compreendido por meio de escrita, figuras e repetições; por isso aconselhava o uso de quadros negros, diagramas, e outros meios auxiliares de ensino.

A razão ou compreensão é uma faculdade que mede e determina aquilo que deve ser procurado ou evitado. Ela nasce a partir do raciocínio que emerge durante a adolescência.

Comênius reconheceu que a criança trabalha com emoções e vontade durante seu processo de aprendizagem. Todo ensino deve produzir a vontade e o prazer de aprender, e para isso é preciso métodos de ensino bons e agradáveis, onde os desejos determinarão o caráter e formarão a base do processo de desenvolvimento.

Outro ponto de vista de Comênius, é que as diferenças individuais da criança deveriam ser tratadas conforme uma ordem de aprendizagem de todas as coisas que fossem de interesse a elas de acordo com a faixa etária de cada sala de aula.

Enfim, a teoria da aprendizagem expressa na obra de Comênius “Didática Magna”, mostra claramente que assim como os artesãos ensinavam seus aprendizes na pratica, as crianças deveriam “aprender fazendo” dentro de suas realidades, ou seja, escrever escrevendo; falar falando; cantar cantando; e raciocinar raciocinando.[17]

O CURRÍCULO PANSÓFICO
Dentro do universo pansófico, Comênius afirmava que não há nada que as crianças não possam aprender, e por isso, todas as matérias aparecem no currículo em cada nível escolar.

Claro que os pormenores de cada disciplina não seriam dominados totalmente, pois isso seria impossível, mas as idéias principais de cada uma deveriam ser passadas, com um método cuidadoso de instrução, onde os alunos aprenderiam de forma progressiva. Por exemplo, no que se refere às figuras, Comênius recomendava o vernáculo acima de todas as outras – latim, grego, hebraico – e defendia o ensino de idiomas estrangeiros modernos para que se pudesse desenvolver um intercâmbio com os países vizinhos.
Teve um grande desprezo pelo Humanismo clássico e negou o valor moral da literatura pagã, pois isso, na concepção de Comênius não era interessante para o bem estar moral e espiritual dos alunos. Disse: “Se desejamos que nossas escolas sejam verdadeiramente escolas cristãs, a multidão de escritores pagãos delas devem ser retirados”. Algum outro pode objetar: “Não somos todos escritores lascivos. Cícero, Virgílio, Horácio e outros, são sérios e honestos”.

Eu respondo: “Mesmo assim, eles são pagãos, cegos, e desviam as mentes de seus leitores do verdadeiro Deus para outros deuses e deusas”.18 Para Comênius, todas as ciências deveriam estar em harmonia com as Sagradas Escrituras. Tinha grande consideração pela História como o elemento mais importante na educação do homem. Deveria ser ensinada em cada classe para que todos os alunos conhecessem os acontecimentos, desde os mais antigos até os dias atuais.

Compreendeu, em primeira mão, que a recreação da criança é o método da natureza da construção de um corpo saudável, vigoroso e um espírito normal e sagaz.[19]

O senso de humor como meio de educação tornou-se um conceito instituído por Comênius com a finalidade de aguçar o intelecto da criança. Tudo deveria ser aprendido por seu valor também para a prática na vida do dia-a-dia, como acontecimentos que nos cercam e que poderão ser pontos de auxílio em nossa trajetória cotidiana. Isso teria que fazer parte da estratégia de ensino dos professores.

Comênius é considerado por muitos estudiosos como o fundador do método moderno que nasceu das lembranças tristes dos seus anos escolares, que ele considerava perdidos, em meio a tanta severidade. Tudo era introduzido no intelecto de forma violenta e à custa de chicote, o que trazia desgosto profundo aos alunos matando suas mentes.

O método de Comênius tinha como propósito dar instrução de forma: segura e completa; certa e clara; fácil e agradável.

Alguns dos princípios dessa instrução são:
• A educação dos homens deveria ser iniciada na primavera da vida;
• Ensinar coisas e linguagem juntas;
• Primeiro a criança deveria compreender o assunto, antes de memorizar a definição dele;
• Começar pelo universal (elementos simples e gerais), e partir para o particular (pormenores);
• Todo o estudo deve ser graduado por passos minuciosos;
• O ensino deveria ser dado conforme a idade e força mental da criança.[20]

Mas, o princípio fundamental repetido por Comênius, era que, como acreditava, a mente é uma tábua em branco, onde os órgãos dos sentidos são os meios através dos quais as impressões são registradas na mente:

O que quer que seja que impressione meus órgãos de visão, audição, olfato, paladar ou tato, apresenta-se para mim com a relação de um selo pelo qual a imagem do objeto é impressa em meu cérebro. (…) Todas as coisas devem tanto quanto possível, serem colocadas diante dos sentidos… O começo do conhecimento deve provir sempre dos sentidos.

[21]

Sendo assim, as paredes da sala de aula devem estar cheias de gravuras penduradas, bem como os livros. Devem conter: mapas, desenhos, diagramas, e tudo o que se pode ser usado para representações. Originou-se assim, o ensino através da visualização.

O método natural deveria ser seguido passo-a-passo, um preparando o caminho para o outro que vem após, sem forçar a aprendizagem com castigos cruéis.

Para Comênius, se o aluno não aprendia logo, o erro estava no professor e na sua falta de visão educacional, pois a natureza implantava as sementes do conhecimento, virtude e piedade na criança, que deveria ser ensinada de forma racional e gradativa; qualquer outro método seria um insulto a Deus.

Ele também acreditava no princípio da socialização, ou seja, o aluno deveria contar para outros alunos aquilo que havia aprendido, por dois motivos: 1) o conhecimento seria passado a todos; 2) o aluno fixaria mais aquilo que havia aprendido.

Um outro princípio era importante para Comênius. O da integração ou correlação entre as matérias, por exemplo, ler e escrever ao mesmo tempo, estudando junto a Literatura. Palavras e coisas, estilo e pensamento deveriam ser igualmente relacionados.

Comênius temia que os métodos usados até então estivessem produzindo confusão no crescimento mental da criança, por isso recomendou um texto de cada vez, um mestre por sala, os mesmos exercícios para todos e o mesmo método para ensinar todos os idiomas.[22]

Mas, o trabalho mais importante de Comênius para a educação de todos os tempos foi “A Grande Didática”, conhecida também como “Didáctica Magna”. Esta obra foi escrita em língua tcheca e traduzida para o latim posteriormente; foi publicada em 1657, em Amsterdã.

Segundo Eby, a “Didática Magna”, em muitos aspectos, é a maior obra pedagógica já escrita. Seu título completo é: “A Grande Didática” Estabelecendo a Arte de Ensinar todas as Coisas a Todos os Homens ou
Um certo Estímulo para fundar tais Escolas em todas as Paróquias, Cidades e Vilas de todo Reino Cristão, para que todos os Jovens, de ambos os Sexos, nenhum sendo excluído, tornem-se Rapidamente, Agradavelmente, Completamente Conhecedores das Ciências, puros em Moral, treinados na Piedade, e desta maneira Instruídos em todas as coisas necessárias para a vida presente e futura.

Comênius ainda disse:

Que o principal objeto desta nossa Didática seja o seguinte: Procurar e encontrar um método de instrução pelo qual mestres possam ensinar menos, mas os alunos possam aprender mais, pelo qual as escolas possam ser cenários de menos barulho, aversão e trabalho inútil, mas de mais lazer, alegria e progresso sólido; e através das quais a comunidade cristã possa ter menos ignorância, perplexidade e dissensão, mas de outro lado, mais luz, ordem, paz e tranqüilidade.

[23]

Além desta grandiosa obra, Comênius escreveu outras que se tornaram importantes:

• Janua Linguarum Reserata (Porta aberta das línguas), impressa em 1631, na qual dispôs todas as principais palavras da língua latina em mil e duzentas frases.
• Janua Linguarum Reserata Vestibulum (Vestíbulo à Porta Aberta para as Línguas), escrita em 1633 e publicada em 1656. Nesta obra ele propunha simplificar e graduar o ensino do Latim.
• Orbis Pictus (Mundo em Figuras), publicada em 1658. Trata-se do primeiro texto ilustrado da História da Pedagogia.

Comênius graduou o ensino da infância à maturidade com extremo bom senso. Baseou a aprendizagem na intuição, numa época em que predominava a memorização, influindo poderosamente na Didática moderna. Afirmou que se os estudos se organizassem retamente, seriam por si mesmos estímulos para as inteligências e atrairiam e arrebatariam a todos pela sua doçura.

A GRANDE DIDÁTICA OU A DIDÁTICA MAGNA OBRA TEOLÓGICOPEDAGÓGICA
A obra de Comênius, “Didática Magna”, tem como escopo a concepção teológica a respeito do ser humano.

Segundo Edson Lopes Pereira (2003), a visão teológica de Comênius precede a pedagógica, pois o homem é a “imagem e semelhança de Deus” e, uma educação de qualidade o capacitará a ser o “paraíso das delícias do Criador”.[24]

Esta visão levou Comênius a escrever a obra pedagógica “Didática Magna”, e esta semente foi plantada a partir da Reforma Protestante, que trouxe reflexões concernentes à questão educacional que se refletiria pelos séculos vindouros, pois novas idéias a respeito da educação foram tratadas pelos reformadores, que eram a favor de seu ensino igualitário, universal e gratuito para todas as classes, independentes de posição social.

Comênius sofreu a influência de John Huss, pré reformador, que lutou para que as Escrituras fossem escritas na língua materna dos povos, e para lê-las, a educação se fazia necessária; assim, Comênius, seguindo a linha de Lutero e Calvino, compreendeu que a educação deveria ser dada desde os primórdios para meninos e meninas, para que pudesse haver a cura de vários males humanos, sociais e políticos; ele já sonhava com uma escola como hoje desejamos, onde ricos e pobres, mulheres e homens pudessem estudar juntos em harmonia.[25]

Por isso é importante o estudo da Didática Magna, pois é um modelo moderno de ensino que pode desenvolver qualquer sociedade nos seus pontos políticos, sociais e econômicos.

Comênius concebe que o ser humano é a principal criatura de Deus, e a coroa da criação, e em sua Didática, alem, de métodos científicos e pedagógicos, propõe um conhecimento teológico, onde o homem aprende a amar a Deus e servi-lo, através de uma formação cuidadosa e de uma educação baseada no saber, na verdade e na piedade.

a) Didática Magna – A obra começa com uma introdução; um resumo daquilo que será tratado em toda a sua extensão: Tratado Universal de Ensinar Tudo a Todos.

b) Saudação aos leitores – Em seguida, temos a “Saudação aos leitores”, onde Comênius apresenta sua tese e a expõe, claramente, dizendo aquilo que pensa da educação de sua época e das passadas, e discorrendo sobre aquilo que, segundo ele, recebeu de Deus como ordem para universalizar o ensino de todas as coisas, a todas as pessoas.

c) Apresentação – “A todos aqueles que presidem as coisas humanas, aos ministros do Estado, aos pastores das Igrejas, aos diretores das escolas, aos pais e aos tutores, seja dada a graça e a paz de Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, No Espírito Santo”.

E a inicia desta forma:

Deus, no princípio do mundo, criou o homem, plasmando-o com a terra, e colocou-o num paraíso de delícias, por Ele plantado no Oriente, não só para que o guardasse e cultivasse, mas também para que ele fosse para o seu Deus um jardim de delícias.

[26]

Assim, segue discorrendo sobre o livro de Gênesis, e de como Deus tratou o homem dentro do paraíso, para ser um governador desta terra de delícias. A partir de textos bíblicos conclui que “As crianças não são apenas objetos, mas também o exemplar da verdadeira regeneração”.[27]

Comênius faz a seguinte pergunta: “Por que é que Deus tem tanta consideração pelas criancinhas?”. E segue respondendo:

Se alguém quiser saber por que é que Deus tem em tão grande consideração às criancinhas e as aprecia tanto, por mais que reflita, não encontrará uma razão mais forte que esta: as criancinhas têm todas as faculdades mais simples e mais aptas para receber os remédios que a misericórdia divina oferece para a cura das coisas humanas, em estado tão deplorável. (…) Além disso, estas coisas podem ensinar-se mais facilmente que os outros, pois não estão ainda dominadas pelos maus hábitos.

[28]

Comênius termina esta apresentação dizendo: “Deus tenha piedade de nós, para que, na sua luz, vejamos a luz. Amém”.

d) Utilidade da Arte Didática – “Que a Didática se baseie em retos princípios interessa: aos pais, aos preceptores, aos discípulos, às escolas, à república, à igreja, ao céu.” [29]

e) Capítulos e assuntos – São, ao todo, trinta e três capítulos palpitantes de vida e sabedoria até os dias atuais, que inicia dizendo que “O homem é a mais alta, a mais absoluta e a mais excelente das criaturas”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação é, sem dúvida, o instrumento perfeito para a realização das reformas sociais necessárias, que solucionará os conflitos que se formaram em nossa sociedade moderna. Só ela poderá trazer harmonia entre os homens, organizando e construindo um mundo igualitário e justo.

No entanto, a educação em si mesma não poderá transformar plenamente a infância, e apesar dos esforços pela disseminação do saber, não conseguiu tornar real o sonho de Comênius, de fazer do mundo uma grande oficina da humanidade.

Na verdade, a educação que transforma de fato uma sociedade, precisa conscientizar-se que sua missão é formar cidadãos instruídos em todos os saberes, virtuosos em toda a moral e piedosos em toda a devoção. Somente o conjunto desses três preceitos poderá provocar e trazer à tona a verdadeira sabedoria que foi semeada por Deus na natureza humana.

É inerente ao homem o desejo de obter conhecimento, de praticar o bem e de reverenciar a divindade, pois foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é dotado de inteligência, benignidade e santidade.

Sendo assim, toda a vida do homem, que depende de sua primeira infância e da educação oferecida a ela, será infrutífera se não for preparada dentro de padrões éticos, morais e espirituais.

Atualmente, a infância chega à escola, vítima de violência e abuso de todos os tipos, trazendo traumas latentes de lares destroçados. Onde teria que haver a educação primeva com exemplos de respeito mútuo, honestidade, integridade e devoção a Deus, há somente o vazio da presença materna, às vezes ausente por emancipação e realização profissional, mas, na maioria das vezes, pela necessidade extrema de levantar subsídios para a sobrevivência familiar.

A educação precisa, antes de tudo, acolher essas necessidades, de forma a trazer para a infância um crescimento mental harmonioso, trabalhando com amor a cicatrização das feridas, as reparações das perdas e a reconstrução das formas destruídas, por meio da esperança naquele que criou o universo.

O grande axioma divino para todo ser racional é: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.

Quando esta lei for obedecida, podemos dizer com certeza, que os direitos humanos que falam de igualdade e fraternidade estão sendo cumpridos na sua essência.

João Amós Comênius teve uma visão além de seu tempo do que deveria ser a educação desde os primórdios, educação esta que tem sido alvo de reflexão até os dias de hoje. Mas, apesar de ser considerado o Pai da Didática Moderna, seus escritos já não são mais estimados e nas escolas os valores que deveriam ser ensinados de forma contundente estão escassos.

A proposta de Comênius é muito importante pela transformação que pode gerar por meio da introdução de valores éticos e morais, além de todo o conhecimento que devemos ministrar para nossas crianças, e, independente de qualquer viés religioso, se analisássemos e refletíssemos mais na obra “A Didática Magna”, teríamos, com certeza, uma educação muito mais eficaz dentro de nossas escolas.

REFERÊNCIAS
Bíblia Sagrada. Edição Revista e Atualizada no Brasil. Tradução João Ferreira de Almeida. Brasília: SBB, 1969.

CHAMPLIM, Russel Norman, Ph. D. / BENTES, Pr. João Marques. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia, 4ª ed. São Paulo: Candeia, 1997.

COMENIUS, Iohannis Amos. Didactica Magna. Introdução, tradução e Notas de Joaquim Ferreira Gomes. Versão para ebook. eBooksBrasil.com, 2001.

COMÊNIO, João Amos. Didática Magna. Tradução de Nair Fortes Abu-Merhy. Rio de Janeiro: Edição da “Organização Simões”, 1954.

COVELLO, Sérgio Carlos. Comênius: a construção da pedagogia. São Paulo: SEJAC, 1991.

EBY, Frederick. História da educação moderna: teoria, organização e prática educacionais (séc. XVI-séc. XX). Tradução de Maria Ângela Vinagre de Almeida, Nelly Aleotti Maia e Malvina Cohen Zaide. Porto Alegre: Globno, 1970.

GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. 8ª ed. São Paulo: Ática, 2005.

LOPES, Edson Pereira. O conceito de teologia e pedagogia na Didática magna de Comênius. São Paulo: Editora Mackenzie, 2003. – (Descoberta 1)

NARODOWSKI, Mariano. Comênius & a educação. Tradução de Alfredo Veiga-Neto. Belo Horizonte: Autentica, 2001.

WALKER, Daniel. Comênius: o criador da didática moderna. Juazeiro do Norte: HB Editora, 2001. Retirado de http://www.ebooksbrasil.com, acessado em 2 de setembro de 2015.

AHLERT, Alvori. O mundo de Comênius: entre conflitos e guerras, uma luz para a prática pedagógica. UNIOESTE Tese Doutorado. São Leopoldo-RS.

ISHII. Liliana. Contribuições de Comênius para a educação cristã. Bacharelado e licenciada em Pedagogia. Universidade Presbiteriana Mackenzie.

MASSOTTI, Roseli de Almeida. Os valores protestantes como base educativa na série Braga. Mestranda no Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

COMENIUS. Disponível em http:www.centrorefeducacional.com.br. Link da Pedagogia em foco, acessado em 9 de setembro de 2015.

COMÊNIO: o pai da didática moderna. Revista Nova Escola, edição especial, nº. 19, p. 32-34. Julho de 2008.

NOTAS
1 Cf. CHAMPLIM, R.N. Obra citada, Vl 4, p.357.

2 Idem, p.357.

3 AHLERT, Alvori. O mundo de Comênius: entre conflitos e guerras, uma luz para a prática pedagógica, p. 4.

4 WALKER, Daniel. Comênius: o criador da didática moderna, p. 13.

5 Idem p.15.

6 Idem p. 15.

7 WALKER, Daniel. Comênius: o criador da didática moderna. p. 40.

8 EBY, Frederick. História da Educação Moderna: teoria, organização e práticas educacionais (séc XVI a séc XX), p. 154-155.

9 EBY, Frederick. Obra citada. p. 156.

10 Didática Magna, p. 418.

11 EBY, Frederick. Obra citada. P.157.

12 Didática Magna, p.418.

13 Didática Magna, p. 200.

14 EBY, Frederick. Obra citada. P. 159.

15 EBY, Frederick. Obra citada. P. 161-163.

16 Idem acima, p. 163.

17 EBY, Frederick. Obra citada. P.163-166.

18 EBY, Frederick. Obra citada. P. 166-167.

19 Idem acima, p. 167.

20 Idem acima, p. 169.

21 EBY, Frederick. Obra citada. P. 170.

22 Idem acima, p. 172.

23 EBY, Frederick. Obra citada. P. 173.

24 PEREIRA, Edson Lopes. O conceito de teologia e pedagogia na Didática magna de Comênius, cf.p. 18.

25 Idem acima, p. 25.

26 Idem acima, p.23.

27 Idem acima, p. 34.

28 Idem acima, p. 35.

29 Idem acima, p.47-50.


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